domingo, 1 de fevereiro de 2009

Fórum Social: Boaventura Sousa Santos defende «a reinvenção do Estado» como resposta às crises

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01 de Fevereiro de 2009, 09:35
Belém, Brasil, 01 Fev (Lusa) -- O Fórum Social Mundial antecipou-se às crises que o mundo enfrenta na actualidade no âmbito da economia, da energia, dos alimentos e do meio ambiente, disse o sociólogo Boaventura Sousa Santos que defende «a reinvenção do Estado».
"O Fórum Social (FSM) foi uma resposta ao Fórum Económico Mundial não só para produzir um diagnóstico alternativo porque nos antecipamos às nossas crises que hoje temos no mundo, mas também para propor uma terapêutica alternativa", afirmou à Lusa Boaventura Sousa Santos, ao destacar que esta edição centralizada do FSM na Amazónia ocorre num momento de que não há memória na crise do capitalismo.
A actual conjuntura mostra que o FSM "tinha razão", afirma o director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em Portugal, que apela a que as soluções que saiam do evento sejam conhecidas em todo o mundo.
Entre a prioridade "total" que deve ser dada às energias renováveis e à agricultura familiar e o "não" radical ao agrocombustível, o sociólogo português defende «a reinvenção do Estado» nos moldes de uma democracia participativa.
"Se o Estado vai ter um controlo maior sobre a democracia tem de haver uma democracia económica", sugeriu.
O Fórum Económico, salienta, "ao contrário do que defendeu antes, hoje defende que o papel do Estado é muito importante". O Estado deixou de ser um problema e agora é uma solução, argumenta. "Mas para nós tem de ser um Estado totalmente reinventado."
Boaventura faz críticas a actuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social do Brasil (BNDES), o segundo maior banco de investimentos do mundo, ao destacar que funciona numa lógica direcionada ao agronegócio e ao neoliberalismo.
Ele propõe, assim, a criação de um conselho nacional de investimentos públicos que envolva a participação de cidadãos e movimentos da sociedade no controlo social. "Isto é um exemplo de uma democracia económica que precisamos criar."
Neste contexto de crise global, o especialista realça que a actuação de movimentos de trabalhadores rurais sem-terra como o MST e a reforma agrária voltam à agenda de discussões.
Segundo ele, "a única agricultura que mata a fome é a agricultura familiar". O agronegócio e a grande monocultura, comenta, "não resolvem o problema, pelo contrário, produzem fome".
Além disso, este modelo de agricultura familiar, sugere, é capaz de evitar o êxodo para as cidades que estão a se tornar "invivíveis, inabitáveis" e mantém também o equilíbrio ambiental que garante a soberania alimentar.
Boaventura Sousa Santos defende ainda a adopção de sistemas económicos que se pautem nas concepções indígenas, o viver em harmonia com a natureza.
"É preciso uma outra visão da natureza como recurso humano e não como recurso natural". Para o especialista, a questão indígena é central nas discussões sobre desenvolvimento, pois "interessam ao mundo".
"A questão indígena e ambiental vão ser fundamentais como questões globais para um novo modelo, e é isso que o Fórum Económico se recusa a ver. Ele continua a pensar que os indígenas são atraso, obstáculos ao desenvolvimento", questiona.
Para ele, uma das grandes oposições ao Fórum Económico é que a solução deve estar voltada na forma de "viver bem dos quéchuas e não na China. Se os chineses consumissem no mesmo padrão que os europeus e que a América do Norte, precisaremos de três planetas para garantir a sustentabilidade de um único".
A isto considera ser uma "solução suicida", pois, segundo Boaventura Sousa Santos, todo o desenvolvimento continua a ser pensado na base do crescimento.
FO.
Lusa/fim

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