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Alto risco
19-Fev-2009
É inaceitável que a vida de uma comunidade supostamente democrática, no início do século XXI, esteja condicionada pelo medo. As sociedades que caem em caldos de cultura de medos ou que são condicionáveis são sociedades cujo estado de saúde é de alto risco.
Em “O Início de Um Mundo”, Jean-Claude Guillebaud alerta para o facto de caminharmos para um encontro para o qual a História não nos tinha preparado e refere a emergência de uma modernidade radicalmente “outra”; sublinhando que a chegada progressiva das sociedades humanas a uma modernidade económica, demográfica, tecnológica, cultural, as aproxima irresistivelmente umas das outras, mas coincide com um “momento” de alto risco.
Todas as alterações profundas a que estamos a assistir e que nos vão obrigar a mudar de paradigma ou são de facto reconvertidas ou o risco da convulsão é imenso (e escrevo-o com o à vontade de o ter referido há tanto tempo). Uma oportunidade para a Organização Mundial do Comércio se coordenar de vez com a Organização Mundial do Trabalho e para que estas dificuldades surjam como uma oportunidade de regeneração do sistema, quer a nível internacional quer a nível interno. A nível interno os sinais negativos multiplicam-se numa podridão doentia.
O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público emitiu um comunicado onde afirma que nos últimos tempos (e sublinha que mais uma vez) o Ministério Público e os seus magistrados têm sido alvo das habituais e recorrentes campanhas que acontecem sempre que estão em causa processos ou investigações delicadas em função das matérias ou dos visados. O Sindicato receia ainda uma “intimidação real” na investigação. Ora, isto é para levar a sério. O caso Freeport - qualificado pelo Presidente da República como assunto de Estado - tem deter um fim tão rápido quanto transparente.
A bem de todos nós e das instituições. Sem bodes expiatórios que ninguém “conhece” nem convenientes prescrições. Seria insustentável outra crise institucional e provocaria várias implosões, como é evidente.
Significativamente o general Ramalho Eanes denunciou um clima de medo crónico de criticar, em Portugal. O ex-presidente da República é, tal como o actual Presidente, das escassíssimas figuras referenciais da Política Portuguesa cujos actos têm sido testemunha disso mesmo (actos, não meras palavras). É, por isso, para levar muito a sério.
É inaceitável que a vida de uma comunidade supostamente democrática, no início do século XXI, esteja condicionada pelo medo. As sociedades que caem em caldos de cultura de medos ou que são condicionáveis são sociedades cujo estado de saúde é de alto risco.
PAULA TEIXEIRA DA CRUZ CORREIO DA MANHÃ 19.02.2009
domingo, 22 de fevereiro de 2009
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