18 de Fevereiro de 2009, 17:57
Bragança, 18 Fev (Lusa) - Os primeiros quilómetros da Linha do Tua serão "definitivamente" desactivados ainda antes da construção da Barragem de Foz Tua, se o Estudo de Impacte Ambiental (EIA), que esteve em discussão pública até hoje, for aprovado, segundo o próprio documento.
O Estudo, que se encontra disponível para consulta na Internet, nomeadamente no sítio da EDP, concessionária da obra, indica que se procederá à interrupção "definitiva" de quatro quilómetros no troço inicial da Linha, logo após a emissão da Declaração de Impacte Ambiental (DIA).
"O desenvolvimento do Aproveitamento Hidroeléctrico de Foz Tua implica a interrupção da Linha do Tua, numa primeira fase, logo apôs a emissão da Declaração de Impacte Ambiental, no troço inicial, entre a estação do Tua e o apeadeiro de Tralhariz (aproximadamente quatro quilómetros) para a realização da campanha de prospecção geológico-geotécnica na margem esquerda necessária para a elaboração do projecto", refere o documento.
"Esta interrupção neste troço, por questões de segurança, será definitiva", acrescenta.
A Declaração de Impacte Ambiental deverá ser emitida pelo Ministério do Ambiente nos sessenta dias posteriores à conclusão da discussão pública e, caso seja favorável ao projecto da Barragem nos termos em que é apresentado, implicará o imediato corte da ligação da Linha do Tua à do Douro e ao litoral.
O presidente da Câmara de Mirandela, José Silvano, reconhece que seria "o fim" da Linha do Tua mas espera que não seja esta a forma de esclarecer o dilema entre a Barragem e a Linha, e quer que seja o Governo a "dizer de uma vez por todas" qual a opção.
"Todos já sabemos que as duas coisas (Barragem e Linha) são impossíveis, há dois interesses em jogo, a decisão é do Governo, que decida", disse à agência Lusa.
Silvano é único autarca da área de influência da Linha e da Barragem que continua a defender a manutenção da ferrovia, frisando que a Declaração de Impacte Ambiental do projecto da Barragem tanto pode ser favorável, como desfavorável ou condicionada.
"As duas coisas é que não são possíveis", reiterou dando razão ao presidente da EDP, António Mexia, que questionou, terça-feira, o interesse de uma ferrovia alternativa noutro sítio, já que perde o seu principal atractivo que é a vista (paisagem).
A circulação na Linha do Tua está suspensa na maior parte da sua extensão, entre o Tua e Cachão, desde o acidente de 22 de Agosto, que poderá ter sido a última viagem de comboio em direcção ao Tua.
Este foi o quarto acidente num ano e meio, com um total de quatro vítimas mortais.
Nos últimos dois anos, a Linha esteve encerrada a maior parte do tempo devido à sucessão de acidentes, o último atribuído a "defeitos grosseiros" na infra-estrutura e à "desadequação" das locomotivas do Metro de Mirandela, que faz o transporte ao serviço da CP, sendo a Linha propriedade da Refer.
O autarca de Mirandela que é também presidente do Metro, disse hoje à Lusa não ter conhecimento "de qualquer obra, avanço ou novidade" relativamente à Linha, desde o último acidente.
Aguarda que "o Ministério dos Transportes se pronuncie, como prometeu, até 30 de Março sobre o futuro da Linha", data em que espera que o impasse fique esclarecido.
Se a Declaração de Impacte Ambiental da Barragem for favorável, a EDP compromete -se a compensar as populações pela perda do comboio com transporte rodoviário e com um museu da memória do Vale do Tua que será inundado pela Barragem.
O alcance da inundação está dependente da cota que vier a ser fixada na Declaração de Impacte Ambiental, perante as três propostas possíveis de 170, 180 e 195 metros, que vão submergir 15,9, 22,7 ou mais de 31 quilómetros da Linha do Tua, respectivamente.
Se a opção for pela cota mais elevada, mais de metade da Linha ficará sumersa.
Independentemente da cota, a parte mais atractiva turisticamente será alagada e para compensar esta "perda e as consequências que isso terá ao nível da identidade cultural das populações locais", a EDP propõe a criação de um Núcleo Museológico e Interpretativo da Memória do Vale do Tua, a instalar na localidade de Foz Tua.
Propõe ainda que o troço terminal do que restar da Linha seja aproveitado turisticamente como caminho pedestre para observação da Barragem e visita ao museu.
HFI.
Lusa/fim
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
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