quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Arte: "Favela" reflecte "preocupações sociais a nível global" - José de Guimarães

19 de Fevereiro de 2009, 15:32
Lisboa, 19 Fev (Lusa) - O artista José de Guimarães manifestou-se hoje contente por a Academia Nacional de Belas-Artes ter premiado a obra "Favela", inserida na mais recente série de peças "Brasil", que reflectem "preocupações sociais a nível global".
A obra, adquirida em 2008 pelo Museu Würth de Logronho, Espanha, onde esteve patente no âmbito da exposição "José de Guimarães: Mundos, Corpo e Alma", foi contemplada por unanimidade do júri do Prémio Dr. Gustavo Cordeiro Ramos atribuído pela Academia Nacional de Belas-Artes.
Em declarações à Agência Lusa, o artista exprimiu o seu agrado pela atribuição. "É um prémio nacional de uma instituição venerada e prestigiada", observou.
"Fiquei contente sobretudo porque o júri escolheu uma peça da minha produção mais recente, e que é importante no contexto de uma trajectória que eu tenho estado a desenvolver, intitulada ´Brasil´, com uma forte componente de preocupação global, pelos assuntos sociais", explicou.
"Favela" inclui elementos como objectos, bandeiras e luz de néon, simbolizando aquilo a que o artista chama "favela global", onde estão representados os cinco continentes.
Quando a exposição "Mundos, Corpo e Alma" encerrou, numa cerimónia do Museu Würth de Logronho que contou com a presença do ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, o artista tinha lamentado viver-se actualmente "num mundo de escravatura sofisticada".
Hoje, reiterou a opinião então expressa, acentuando que "os acontecimentos mundiais comprovam essa afirmação a cada dia que passa".
"A ganância dominou os países nas últimas décadas e o dinheiro tornou-se numa componente maléfica", comentou ainda, sobre as fraudes financeiras de grandes dimensões que se têm verificado à escala global.
Nascido em 1939, José de Guimarães adoptou como pseudónimo o nome da sua cidade natal e esteve nos anos 60 em Angola para cumprir o serviço militar, ali permanecendo sete anos que viriam a ser determinantes para a sua forma de criar e entender a arte.
Também as culturas chinesa, japonesa e mexicana inspiraram José de Guimarães em certos períodos da sua carreira, tendo-se deslocado frequentemente ao Oriente para exposições e criação de obras de arte pública, nomeadamente em Macau.
A comunicação, a guerra, o amor, o erotismo e a literatura são temas presentes nos seus trabalhos, adquiridos por colecções públicas e privadas a nível nacional e internacional como a Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação de Serralves, o Museu Nacional de Arte Contemporânea de Madrid, o Rockefeller Art Center (EUA), o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Museu de Arte Moderna de Bruxelas e o Museu de Angola, entre outros.
Desde 1995 que José de Guimarães reparte a sua actividade entre Paris e Lisboa.
Instituído em 1979, o Prémio Dr. Gustavo Cordeiro Ramos distingue em anos alternados obras de pintura e escultura consideradas mais relevantes, apresentadas em exposições ou implantadas em espaços públicos no ano transacto.
Entre os artistas já galardoados contam-se Joaquim Correia, António Inverno, Maria Keil do Amaral, Lagoa Henriques e Ângela Ferreira.
Além de António Valdemar, o júri deste ano foi constituído pelo pintor Reys Santos, o arquitecto António Marques Miguel, o crítico de arte José-Augusto França e o escultor António Vidigal.
AG.
Lusa/Fim

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