sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

JN Opinião: Paquete de Oliveira "O sistema explodiu"

http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Paquete%20de%20Oliveira
2009.02.19
"Dos Estados Unidos vem a notícia de mais uma megafraude. O magnata texano de nome Allen Stanford há muito vinha ludibriando os seus cerca de 50 mil investidores com a falsa promessa de garantir-lhes 10% de ganhos sobre o valor investido. A bolha rebentou e sabe-se agora, pelos primeiros cálculos, que esta nova patranha financeira já ascende a 8000 milhões de dólares, ou seja, aproximadamente 6400 milhões de euros.
Depois de Bernard Madoff, Wall Street volta a estremecer com mais este abalo. Não admira, por isso, o próprio pessimismo do optimista Barack Obama quando, ao anunciar o mais recente plano de estímulo económico, declara: a economia mundial e os EUA atravessam uma recessão sem precedentes, marcada por uma aguda crise financeira que roça na extrema debilidade da solvência da Banca dos Estados Unidos.
Às vezes dá-me a impressão de que, afinal, esta crise financeira estava mais do que prevista. Só que ninguém, a tempo, lhe deitou a mão. Ou seja, com Madoff, Stanford , por lá, com BPN, BPP, por cá, isto tinha de acontecer. Desculpem os economistas esta enormidade que vou escrever: estava inerente ao sistema de multiplicar fáceis lucros sem valor substantivo para os alcançar. E, neste caso, faziam o engodo os Madoff e os Stanfords, mas também iam nesse engodo de ter vencimentos de depósitos a 10% e mais aqueles que agora vêem o dinheiro a voar. A voracidade pelo dinheiro a todos traiu.
Mas paralelamente a estas megafraudes, os circuitos "normais" de ganhar dinheiro sobre o dinheiro não são menos responsáveis por esta explosão do sistema financeiro. O subprime nos EUA, que aliás foi o primeiro estalar desta crise, tem correspondente idêntico entre nós ao modo como se montou e desenvolveu o crédito imobiliário. Por outro lado, a ruína começou a cavar-se com o estímulo cego e desmesurado que se provocou, promovendo um consumismo sem limites, com a instituição do slogan, aplicado aos mais variados produtos e serviços: "Compre primeiro e pague depois". É verdade que foi este mecanismo que permitiu uma certa "explosão social" a camadas populacionais que sem riqueza pessoal estavam impedidas de usufruir de pequenas coisas do lado lúdico e bem-estar da vida. O pior é que com estes esquemas nem se conseguiu diminuir o abismo entre as diferenças sociais, agora agravado com o número daqueles que atrofiados em penhoras perdem os anéis emprestados pela facilidade do crédito e perdem os próprios dedos e vão engrossar os descamisados da vida.
A crise financeira trouxe rapidamente a crise económica. Obviamente sem dinheiro disponível, ou melhor disponibilizado, emperrou o consumo, ressentiu-se a produção, vem a escalada do desemprego que traz por arrasto a insustentabilidade de uma sociedade coesa e de equilibrada sociabilidade humana. E se já podemos fazer esta constatação da crise financeira e consequentemente da crise económica, o que ainda não vislumbramos é a extensão do drama da terceira vertente da crise, a crise social.
Perante esta incógnita cheia de incertezas, espantam-me as soluções que tantos responsáveis sociais anunciam por aí para superar e resolver esta crise. E admira-me de como os líderes do Mundo ainda não consultaram estes visionários para resolver um problema que nem eles sabem muito bem como solucionar."

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