sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Espanha- ARCO 2009: Galeristas portugueses com optimismo reservado

http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/9318620.html
12 de Fevereiro de 2009, 09:38
***António Sampaio, da Agência Lusa***
Madrid, 12 Fev (Lusa) - Um optimismo reservado, que reconhece a tendência mundial de crise, marca as opiniões dos galeristas portugueses presentes na edição de 2009 da Feira de Arte Contemporânea de Madrid (ARCO).
Ainda assim no primeiro dia já há vendas e alguns manifestam-se mesmo confiantes, antecipando resultados que podem ser positivos, num ambiente de compradores mais cuidadosos e entre propostas de galerias menos arrojadas que no passado.
Todos reconhecem que há menos afluência, que o padrão de compras mudou e que o impacto da crise também se faz sentir.
Na segunda participação na ARCO, a António Henriques, Galeria de Arte Contemporânea, de Viseu, trouxe a Madrid dois nomes conhecidos do público espanhol, Pedro Cabrita Reis e Pedro Calapez e um artista mais jovem, Diogo Pimentão.
"São artistas muito conhecidos no mercado espanhol e o Diogo já esteve connosco no ano passado e foi muito bem recebido", explicou o director da galeria, António Henriques.
Recordando que a feira só termina no dia 16, Henriques mostra-se confiante, explicando à Lusa que já vendeu e que há obras para todos os bolsos, entre os 1.600 e os 46 mil euros.
"Ainda estamos no primeiro dia. Vamos ver", disse.
Paulo Amaro, da galeria lisboeta com o seu nome, também se mostra confiante, mas recorda que se notam mudanças, face a participações em anos anteriores.
"Vendas, por enquanto, ainda está fraco. Tenho tido algum interesse, algumas abordagens, mas as pessoas hoje estão mais conscientes na aquisição e por isso amadurecem mais antes de comprar", disse á Lusa.
Amaro insiste que o ideal seria conseguir entrar nas grandes colecções, institucionais ou privadas, mas que não se pode ignorar quem começa agora.
"O pequeno coleccionador pode ser o grande coleccionador, amanhã", recorda, explicando que os preços das obras à venda variam entre os 250 e os 7.500 euros.
"É arte acessível. Qualquer pessoa pode fazer uma colecção, não tem que começar com nomes sonantes. Para começar tem é que ver muito e começar com obras que pode comprar e, sobretudo, que goste. É fundamental gostar das obras", disse.
Manuel Ulisses da Quadrado Azul (Porto), uma das veteranas na ARCO, apostou num leque amplo de artistas, com nomes como João Queirós, Francisco Tropa, Paulo Catrica ou José de Guimarães, fazendo uma grande aposta na fotografia.
A aposta na fotografia ocupa, aliás, um lugar de destaque na edição deste ano, um facto que "pode parecer concertado" mas que para Ulisses é uma coincidência resultado da tendência do mercado.
Com preços entre os 800 e os 50 mil euros, as obras à venda na Quadrado Azul estão a suscitar interesse, na opinião do director da galeria, que recorda que a ARCO abre a porta a contactos que depois se materializam em vendas ao longo do ano.
"Esses contactos e essas promessas materializam-se. Temos algumas instituições espanholas que se mostraram interessadas. Sempre fui optimista. Vim para aqui com o objectivo de divulgar tanto a galeria como os artistas", disse.
"Mas isto é uma galeria comercial, que tem que vender. Mas independentemente de tudo, a ARCO é uma rampa de lançamento para os artistas que se mostram aqui a gente de todo o mundo", frisou.
Na sua nona participação, Carlos Carvalho, responsável da galeria com o seu nome, admite que as coisas começaram "devagarinho, mais calmo" ainda que haja "gente interessada".
"A feira não serve só para vender e divulgar os artistas. Interessa porque permite fazer contactos que depois se materializam em exposições e projectos em instituições ou galerias espanholas ou de outros países", disse.
Logo no primeiro dia, explicou, foram fechados acordos para exposições de jovens artistas em museus espanhóis, que preferiu para já não revelar.
Carlos Carvalho reconhece que as galerias têm, este ano, uma aposta menos arrojada, um resultado de ponderar os custos associados à presença em Madrid com a necessidade de promover obras com mais capacidade de venda.
"As grandes peças, mais arrojadas, são normalmente compradas por instituições. Havendo uma recessão essas compras podem baixar e por isso as galerias também se retraem", disse.
"As galerias não podem gastar o que não têm e por isso têm que trabalhar com mais rigor", afirmou.
António Leal, da lisboeta Graça Brandão, outras das veteranas na feira espanhola,explicou à Lusa que a vinda a Madrid chegou a ser questionada, por se pensar que as vendas poderiam não conseguir compensar os elevados gastos associados.
"Consideraríamos um sucesso cobrir as despesas. O stand custa entre 20 e 30 mil euros", disse, admitindo que o "seguro" oferecido pelo Ministério da Cultura - num máximo de 8.000 euros, "é uma ajuda".
"Se não houvesse esse apoio acho que tínhamos desistido. É uma feira que nos trás bastantes vendas e onde se têm que estar porque é a feira ibérica. A de Lisboa é muito mais regional e neste caso o espaço é mais internacional", sublinhou.
Em destaque volta a estar a obra da brasileira Lygia Pape (que morreu em 2004), representada em Portugal pela Graça Brandão e que no passado suscitou bastante interesse entre os coleccionadores que visitaram a ARCO.
João Maria Gusmão e Pedro Paiva, a dupla escolhida para a bienal de Viena estão igualmente presentes com filmes de 16 milímetros, numa galeria onde todos os artistas já estiveram em edições anteriores.
Neste espaço a instalação central é do brasileiro Nelson Leirner (75 anos): um carrinho de supermercado, sobre as bandeiras portuguesa e brasileira, onde se amontoam caravelas feitas com latas de coca-cola.
Apesar da peça Antonio Leal admite que "os galeristas não arriscam tanto", procurando trazer "obras mais vendáveis", num clima de receio e de mais cuidado nas compras.
Claramente mais optimista está Manuel Santos, director da galeria Fernanda Soares, que disse á Lusa que apesar de menos gente no início da feira, "são poucos mas bons".
"Já há vendas. Já há várias vendas. Estamos satisfeitos", disse, admitindo porém que, como noutros sectores, a crise também tem afectado as vendas de arte.
Isso evidencia-se entre os galeristas presentes que, em muitos casos, e segundo Manuel Santos, apostaram em obras que já tinham em carteira e não em obras inéditas, apresentadas pela primeira vez em Madrid.
ASP.
Lusa/Fim

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