19 de Fevereiro de 2009, 16:41
Lisboa, 19 Fev (Lusa) - O director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA), Luís Raposo, considerou "muito problemática" a passagem desta instituição do Mosteiro dos Jerónimos, onde está instalada há mais de 100 anos, para a Cordoaria Nacional.
"Para além de muito problemática, essa mudança é seguramente muito cara", disse Luís Raposo, em declarações à Lusa.
O arqueólogo disse que lhe foi comunicado em Dezembro, pelo presidente do Instituto dos Museus e Conservação (IMC), Bairrão Oleiro, que havia a "intenção" de mudança do museu, mas "como cenário, como hipótese".
No entanto, por posteriores declarações do ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, percebeu que a decisão política já estava tomada.
Numa audição parlamentar a 3 de Fevereiro, Pinto Ribeiro, questionado pela oposição sobre a mudança dos serviços de arqueologia do ministério da Cultura que se encontram nos terrenos onde ficará instalado o futuro Museu dos Coches, referiu que chegou a acordo com o Ministério da Defesa para que o edifício da Cordoaria Nacional passe para o seu ministério e que aí instalará todos os serviços de arqueologia.
Mais tarde, por insistência dos deputados, o ministro acabou por admitir que essa transferência também abrangeria o MNA e dias depois, em entrevista ao Público, clarificou o assunto.
O Museu Nacional de Arqueologia "vai ser reinstalado e na Fábrica Nacional de Cordoaria. Já tem um projecto que ainda não está determinado nos seus detalhes. Neste momento há um acordo para que o actual espaço do MNA seja transmitido para a Defesa. Vai ser uma extensão do Museu da Marinha, onde ficará a arqueologia subaquática", disse o ministro ao jornal.
"Fiquei a saber que já não era apenas um cenário, uma hipótese, mas uma decisão tomada", disse o arqueólogo.
Luís Raposo acrescentou que a ideia de mudança lhe foi justificada "com a vontade de reunir num só espaço todo os serviços centrais de arqueologia do Ministério da Cultura", embora o MNA esteja desde sempre num espaço afastado desses outros serviços.
Logo na altura em que soube da intenção da tutela de mudar as instalações do Museu, o director fez um memorando interno com algumas considerações, incluindo observações "de natureza potencialmente positiva" como "uma certa economia de custos" entre serviços.
"Mas também alinhei todo um conjunto de outros aspectos problemáticos que me levavam a considerar muito problemática a passagem do MNA para a Cordoaria Nacional", afirmou Luís Raposo.
Instado a explicar esses aspectos problemáticos, Luís Raposo indicou que desde logo há aspectos relacionados com riscos sísmicos e de inundações da Cordoaria Nacional, um edifício que também não pode ser mudado de acordo com as exigências de instalação de um museu moderno.
"A mudança, a existir, que seja para melhor", disse o mesmo responsável, que apontou a "tomada de posição consistente" quanto à transferência por parte de uma entidade que "está muito ligada ao museu", o Grupo de Amigos do MNA.
Em comunicado, o Grupo de Amigos do MNA declarou que "repudia a ousadia de se pretender decidir o futuro de um dos mais importantes museus nacionais em função de uma urgência circunstancial".
"Onde estão os estudos que permitam, com o máximo rigor, decidir que é mais económico instalar o MNA na Cordoaria do que fazer construir um museu de raiz?", questiona o comunicado.
O Grupo de Amigos do MNA exige que o Ministério da Cultura, "perante as incertezas existentes" oiça o Conselho Nacional de Cultura sobre esta matéria e declara a sua "intenção de resistência cívica", através de todos os meios legais, "inclusive o de acção popular".
Segundo dados do IMC, em 2008 o MNA foi o segundo museu nacional mais visitado, logo a seguir ao Museu dos Coches.
EO.
Lusa/Fim
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
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