segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

INCÊNDIOS NA AUSTRÁLIA: Português descreve «cenário de guerra» na Austrália

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=125687
Um pintor português que reside há vários anos no estado australiano de Vitória, afectado por incêndios sem precedentes, descreveu hoje situações de verdadeiro horror, com pessoas a serem carbonizadas dentro de carros quando tentavam fugir às chamas
«Há quase 100 mortos. Isto é indescritível. Ninguém imagina», disse Luís Geraldes à Lusa numa conversa através de Messenger a partir do centro de refugiados onde se encontra.
Obrigado a abandonar a sua casa, na zona de Jumbuk, devido à aproximação das chamas, Luís Geraldes disse à Lusa que muitos dos mortos foram apanhados quando fugiam das chamas, em estradas bloqueadas pelo fogo ou por árvores caídas.
«O fogo começou na montanha, aqui por trás de Churchil, [sudeste de Melbourne]. Com ventos de 90 km/hora avançava 100 metros cada três segundos», descreveu. «Percorreu as montanhas, uma a uma. As árvores queimadas iam caindo e as pessoas ficavam sem poder fugir. Mas só se apercebiam disso quando já estavam dentro dos carros, rodeados pelo fogo que os assava dentro do carro», disse. «Na zona onde vivo as árvores têm cerca de 60 metros de altura e pareciam velas acesas como em Fátima. Depois explodiam», disse ainda.
Segundo referiu, o balanço provisório é de cerca de mil casas destruídas, num fim-de-semana onde a temperatura chegou aos 49 graus, e onde o vento forte fez alastrar as chamas - que já causaram 108 mortos, segundo dados actualizados - numa frente de centenas de quilómetros. Actualmente no centro de deslocados em Churchil - «onde estão cerca de mil pessoas» - Geraldes admite que já tentou chegar ao mar, mas acabou por regressar porque também junto à costa havia incêndios.
«A minha casa escapou milagrosamente. Pelo menos por agora. Como outras, foi ‘bombardeada’, pelo ar, com retardante de fogo. Mas nada garante que as coisas fiquem assim», disse. «Muitos não tiveram essa sorte. O fogo teve um comportamento estranho, mudava a cada momento, criando turbilhões. As árvores pareciam bombas a arrebentar com a acumulação de gás», acrescentou.
Afirmando que fugiu de casa na manhã de sábado, quando o fogo se aproximou, Luís Geraldes descreve a destruição de várias casas próximas, onde também os veículos foram atingidos pelas chamas e explodiram.
«As garagens com carros explodiam. Ninguém imagina. Os animais, cangurus e wombats [marsupial australiano], fugiam da floresta e vinham ter com as pessoas como se fossem crianças», disse.
Como muitos dos habitantes da extensa zona afectada pelos incêndios, Luís Geraldes diz que não pode voltar a casa «nem sabe quando» o poderá fazer, explicando que, em muitas zonas, continuam carros bloqueados nas estradas.
«O balanço vai aumentar. Há estradas onde a polícia nem conseguiu chegar. Não podem ter acesso às estradas. E há lá pessoas», disse. «Ninguém acredita. O fogo foi tão intenso que até estruturas de metal derreteram. Isto parece uma zona de guerra. Os comboios deixaram de trabalhar, as linhas dobraram com o calor e vão ter que ser todas mudadas», disse.
«Houve alturas em que o céu até perdeu a luz. Criou-se um capacete negro e as cinzas e as folhas, levadas pelo vento, caíam como neve por todo o lado e espalhavam ainda mais os incêndios», disse. «Os hospitais estão cheios de pessoas com mais de 50 por cento de queimaduras. É horrível», sublinhou. «Há muitos voluntários, bombeiros e até militares a ajudar. Mas ninguém sabe quando isto pára», concluiu.
António Sampaio, Lusa / SOL

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