01 de Março de 2009, 11:05
Lisboa, 01 Mar (Lusa) - A história das cidades também se faz pelos seus espaços comerciais. Depois de anos de sucesso, em muitos casos restam apenas as lojas vazias, com vidros forrados de jornais, e a memória dos tempos áureos.
Os "centros comerciais fantasma" são comuns a todas as cidades, médias ou grandes, até porque muitos dos projectos, típicos dos anos 70 e 80, revelaram-se desadequados para as necessidades e gostos dos consumidores.
Em Lisboa, a discoteca Whispers marcou uma geração e o sucesso do shopping Imaviz que se agora limita a lojas para um tipo de consumidores de menores posses. As lojas escondidas e as escadas não ajudam ao sucesso comercial de outros tempos.
Do outro lado da avenida, o Palácio Sotto Mayor, apesar de recente, nunca se conseguiu impor e muitas lojas permanecem fechadas. A poucos metros, o City apresenta um cenário semelhante mas tem a atenuante de ser também antigo como o Imaviz, resumindo-se as poucas lojas abertas a negócios de ocasião e alguma restauração.
Na zona de Alvalade, convivem outros dois shoppings fantasma, mas com histórias diferentes. O shopping Alvalade tem corredores vazios depois do sucesso do passado. Já o Alvaláxia, no estádio do Sporting, nunca atingiu os objectivos iniciais só regista enchentes em dias de jogos grandes.
No Porto, nomes como o Stop, Sirius, Dallas, Cedofeita, Brasília, Clérigos Shopping e Central Shopping figuram na lista de espaço, que sofreram as consequências da desertificação da cidade, da falta de condições de segurança e do aparecimento dos grandes shoppings de segunda geração, mais organizados e modernos.
O Centro Comercial Stop, construído na década de 80, viveu cerca de dez anos pujantes que acabaram com o fecho das duas salas de cinema. Hoje, reinventou-se e é considerado o maior pólo agregador de bandas de música do Porto e muitas lojas, abandonadas durante anos, funcionam como salas de ensaio.
Já cenário diferente é o Dallas, inaugurado em 1984 e encerrado desde 1999, por ordem da autarquia devido à falta de condições de segurança e de licença de funcionamento. O interior labiríntico e os problemas de segurança, com assaltos, confrontos físicos e tiroteios frequentes, nunca permitiram o total sucesso deste centro comercial, apesar da sua boa localização.
O Sirius, o Centro Comercial de Cedofeita ou o Brasília - o mais antigo e emblemático shopping da cidade - tentam actualmente voltar a fazer parte do quotidiano dos portuenses, mas ainda com pouco sucesso.
Inaugurado em 1996, o antigo Central Shopping, propriedade do Grupo Soares da Costa, está encerrado há mais de um ano. Os promotores prometem uma "profunda remodelação" e um novo nome, "Galeria Central", mas aos consumidores só resta esperar. Também o Clérigos Shopping, permanece abandonado desde 2002. Ao longo dos anos não faltaram sugestões para o reconverter, mas ao concurso público concorreu apenas uma empresa: a Bragaparques.
Mais a sul, em Coimbra, o centro comercial Avenida é um dos espaços onde é visível a falta de movimento, sofrendo com a própria configuração física do interior, que o tornou "pouco atractivo" para os consumidores.
Quem o diz é o dirigente da Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC) Arménio Pratas Henriques que aponta também o risco de declínio no Golden. Já no Girassolum, "os comerciantes renovaram-se" e investiram na qualificação do espaço.
Em Aveiro, o mais antigo centro comercial é o Oita, aberto há 25 anos mas mantém apenas 20 por cento de lojas ocupadas, que pouco ou nada têm a ver com os negócios originais. É aqui que se localiza a "famosa" loja de venda de drogas livres, uma sex-shop do mesmo proprietário e outros comércios mais ou menos excêntricos.
Mais para o interior, na cidade da Guarda, o Centro Comercial de S. Francisco abriu as suas portas há 25 anos mas agora não passa de um cenário decadente. "Das 40 lojas temos dez abertas no piso de cima e três no de baixo", reconheceu o administrador António Dias. No Garden Shopping Center, o segundo centro comercial mais antigo da Guarda, o cenário é diferente, embora um terço das lojas estejam fechadas.
Em Leiria, o presidente da associação de comerciantes, Carlos Caiado, admitiu que o sucesso dos centros comerciais depende da moda, da localização e do poder de compra. Exemplo disso são as Galerias Alcrima, uma "moda" que teve um rápido declínio.
De todos os centros comerciais antigos, o único que resiste com sucesso é o Maringá, que beneficia da localização e estacionamento próprio. O mesmo já não se passa com o Sol Leiria, o Lis, o São Francisco, o D. Dinis ou o Edifício 2000, que não passam de "pequenos centros comerciais", que não registaram evolução nos últimos anos, observou Carlos Caiado.
Em Évora, o degradado centro comercial Eborim - inaugurado em 1983 e que chegou a acolher 26 lojas e duas salas de cinemas - vai deixar de ser um espaço fantasma, passando a acolher o comando distrital da PSP, com obras de adaptação que deverão arrancar ainda este ano.
No extremo sul do país, o "Faro Shopping" chegou a ser uma referência mas agora a forte concorrência de grandes espaços comerciais reduziu o número de lojas abertas a quase nada.
No meio do Atlântico, em Ponta Delgada, o primeiro shopping do arquipélago foi palco de anos de crise, que levou ao encerramento de várias lojas. Em 2008, transformou-se em "Sol Mar Avenida Center" e, além dos vários consultórios de advogados e médicos, quer agora captar lojistas alternativos de "moda, música, acessórios, restauração, cafetaria e serviços", afirmou a relações públicas do centro comercial, Maria das Mercês.
PJA/SYR/MSO/SYM/PM/MCS/ASR/RME.
Lusa/Fim
domingo, 1 de março de 2009
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