domingo, 8 de março de 2009

Petição da O.A. contra a demolição de moradia com azulejos de Almada Negreiros

http://www.petitiononline.com/Alcolena/petition.html

É preciso salvar a Casa rua Alcolena da autoria do arquitecto António Varela com murais de azulejo da autoria do pintor Almada Negreiros.

To: Câmara Municipal de Lisboa

A Casa que António Varela projecta em 1951-1955 para a rua de Alcolena nº28/44 é uma obra maior da arquitectura do Movimento Moderno e um dos raros exemplos da “integração das três artes” já que a fachada integra um mural de azulejos do pintor Almada Negreiros.
A moradia implanta-se numa cota de terreno mais elevada que o arruamento. A solução arquitectónica encontrada pelo arquitecto sustenta-se numa implantação que recorre a um alçado principal afastado do eixo da rua, ficando emoldurada por um jardim. Estruturada em três pisos a habitação revela uma orgânica racional: cave destinada ao serviços de pessoal doméstico, arrumos e instalação de equipamento de aquecimento; no piso térreo as dependências destinadas a zonas de recepção, estar, refeições, fruição de espaço; e o primeiro piso destinado ao repouso e recolhimento dos proprietários.
António Varela é um resistente modernista, que desenvolve com assumido radicalismo um volume puro, cúbico, afirmativamente colocado no alto do terreno, desmaterializado através do jogo de vazios, de avanços e recuosdos planos de fachada, com rigorosa geometria plasticamente trabalhada, onde surgem extensos painéis de azulejo da autoria de Almada Negreiros, coerentes testemunhos das pesquisas sobre o número e os traçados geométricos que o genial pintor vinha investigando.
Integrada no Bairro da Encosta da Ajuda, vulgarmente designado por Bairro do Restelo, desenhado por Faria da Costa entre 1938 e 1940 no espírito da cidade-jardim Howardiana, é testemunho das primeiras obras filiadas nos princípios da Arquitectura do Movimento Moderno.
A Casa de Alcolena tem sido listada, inventariada e estudada em diversas investigações de carácter nacional e internacional sobre a produção moderna: Guia Urbano e Arquitectónico de Lisboa (Associação dos Arquitectos Portugueses, 1984); Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa dos Anos 50 (Tostões 1995, 1997); IAPXX-Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal (Ordem dos Arquitectos, 2006); Inventário Docomomo Ibérico da Habitação (2008).
Por todas estas razões entendemos que a Casa da Rua de Alcolena deve ser preservada na íntegra porque a destruição do todo ou de partes com a remoção dos murais, põem em causa a integridade da obra. Nesse sentido torna-se urgente o pedido de abertura de um processo de classificação de património municipal por parte da Câmara Municipal de Lisboa.

Sincerely,
The Undersigned


Todo o esforço é sempre pouco para fazer compreender aos investidores que destruir o património é matar a galinha dos ovos de ouro. Património não é só cultura; é também uma mais valia económica de que se deve saber tirar partido. A destruição desta moradia para além de um crime cultural será também um atestado de incompetência aos promotores, aos autores, a quem decide a autorização e a todos nós, por não conseguirmos alterar tal estado de "in"cultura, fazendo tão pouco por isso.

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