quinta-feira, 12 de março de 2009

ESCÂNDALO - Museu dos Coches: Conselho do Património dá "luz verde" a projecto de novo edifício






COMENTÁRIO:
É um verdadeiro escândalo, em pleno século XXI, iniciar uma obra contra todas as disposições regulamentares de carácter cultural e ambiental.
É um crime.
É o oposto do que se faz por toda a Europa, na reabilitação e preservação do património histórico e cultural.
Já não nos chegou a vergonha dos comentários sarcásticos sobre a ignorância e presunção portuguesas, aquando da Expo 98, pela criação de um novo e grande Aquário, orgulho dos governantes deste país. Quando, nessa data, já todo o mundo civilizado via esses tanques como meras gaiolas ou prisões de peixes e animais arrancados aos seus habitats.
Quando já todos procuravam reabilitar, preservar e mentalizar a população a conservar os espaços e meios naturais onde se desenvolvem as espécies, tentando detectar e minimizar todos os factores de risco para os evitar, fomos nós mostrar a nossa "categoria", digo, a falta dela, criando, em grande escala, precisamente aquilo que é o exemplo do que se ensinava às criancinhas na verdadeira Europa que se devia evitar; que tinha sido um erro andar a fazer isso em vez de andar a perceber e a tentar preservar a natureza, pugnando pelo sua sobrevivência.
No meio das coisas boas que nessa data se fizeram, isto foi a chacota total, com que nos desacreditamos aos cultos que nos visitaram (não foram assim tão poucos, pois os comentários, não divulgados por cá, apareceram bem lá fora).
Mais uma vez, vamos prendar o mundo com a nossa falta de conhecimento e civilidade, dando provas de incompetência pura.
Quando vamos lá fora visitamos museus.
Eles, quando se dignam vir cá, visitam os nossos museus.
O museu dos coches é o melhor, o mais visitado, e como tal subejamente conhecido por esse mundo fora.
Vamos dar cabo dele.
Vamos vestir os nossos velhos coches de um embrulho branco, vasto e triste.
Eles que se encontravam aconchegados e acarinhados no berço de um velho espaço à sua escala, à sua côr, à sua proporção; envoltos no sentido do ambiente dos cavalos. Cavalos esses sem os quais os coches nunca se moveram. Isto é um casamento centenário que só a incúria, a má fé e o despeito poderão querer separar... ou então a falta de conhecimento, de sentimento, de um mínimo interesse pelo bem fazer.
Os coches vão morrer, pois é impossível aguentar tal rotura.
O edifício vai-se perder, da memória de um século de visitas de todo o povo.
Vamos ser novamente a chacota do mundo civilizado: por não sabermos fazer, e pior, por deixarmos fazer mal quem não sabe o que anda a fazer.
É triste.
É muito triste, e, dentro de pouco tempo, vamos ser acusados pelos nossos filhos de termos permitido que isto se fizesse quando por aqui andávamos.
Muito se disse dos que, durante a 2ª guerra, lavaram as suas mãos e permitiram a chacina que ocorreu.
É o que agora se vai dizer de nós.
Uma vergonha...
Depois de dar cabo desta pequena jóia preciosa, sá falta dar cabo da outra: da Torre de Belém; a única que se pode comparar com esta, pela escala e pelo carinho que, do povo, lhe temos...
Para fazer este novo "prédio à beira Tejo", não importa o custo ambiental, o investimento económico ( num período em que o povo passa fome), que seja o exemplo do que não se deve fazer, que até nem seja preciso, que não respeite o regulamento térmico, e venha a ser mais um monstro consumidor de energia e de terrível manutenção (estes custos futuros vão multiplicar por 20 ?...)
Que se está a fazer agora no 1º e 2º mundos? Edifícios de custos energéticos e de manutenção reduzidos, que diminuam as emissões de dióxido de carbono, que tratem naturalmente as ventilações e a iluminação natural... Olhem como os Espanhóis dão à população como exemplo a seguir, o desempenho ambiental do "supositório" de Barcelona. E já tantos outros que se encontram construidos. Isto já não é novidade em projecto. É já a realidade que nos envolve por este mundo fora.
E vamos nós agora, timonados por quem não sabe, nem quer ouvir de quem sabe, pagar e aturar no futuro mais uma atoarda... uma grande burrice...
Haverá ainda alguém que se consiga fazer ouvir por tamanhos moucos?...
Vamos todos à concentração marcada para dia 18, no local da obra.
2009.03.11 Ferreira arq.

Notícia do título:
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/9419073.html
10 de Março de 2009, 19:26
Lisboa, 10 Mar (Lusa) -

O projecto do novo Museu dos Coches, da autoria do arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, recebeu hoje "luz verde" do Conselho Consultivo do Património, com a recomendação para ter cuidado com a área envolvente.

O director do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico), Elísio Summavielle, disse à Lusa que "o conselho na reunião extraordinária de hoje, dedicada apenas ao projecto do novo Museu dos Coches, deu parecer positivo".

"Houve parecer positivo mas com uma recomendação para se ter cuidado com o arranjo dos espaços públicos, isto é, a área envolvente", frisou.

Relativamente à prevista construção do silo que faz parte também do projecto de Mendes da Rocha, Elísio Summavielle disse que "não vai ser construído".

"O silo não vai ser construído. Consideramos que não pode ser dada a proximidade da Central Tejo", afirmou.

Refira-se que a Câmara de Lisboa tinha já rejeitado o ano passado, a possibilidade da construção do silo automóvel de 26 metros.

Este conselho consultivo da direcção do IGESPAR emite apenas parecer nas áreas da arquitectura e urbanismo, sendo constituído quatro conselheiros convidados, um representante do Ministério das Finanças e outro do Ambiente e Ordenamento do Território, um da Conferência Episcopal Portuguesa e outro da Associação Nacional dos Municípios Portugueses.

Os conselheiros convidados são o arqueólogo Cláudio Torres, o engenheiro Maranha das Neves, e os arquitectos Alcino Soutinho, Tomás Taveira e Vasco Massapina.

O projecto que o Governo atribuiu ao arquitecto brasileiro foi já apresentado publicamente, devendo as obras iniciar-se em Setembro próximo.

O novo Museu, a inaugurar dentro de ano e meio, ficará instalado nas ex-Oficinas Gerais do Material do Exército, em Belém, onde actualmente funcionam os Serviços de Arqueologia que serão transferidos, na sua maioria, para a Cordoaria Nacional.

O edifício, que ocupará 15.177 metros quadrados foi apresentado como "um projecto-âncora da requalificação e revitalização da Frente Tejo de Lisboa".

O novo edifício - de linhas direitas, envidraçado do lado poente (virado para a Praça D. Afonso de Albuquerque) - irá albergar a colecção do actual do Museu dos Coches, incluindo o núcleo existente em Vila Viçosa.

O novo museu disporá de uma área de apoio à manutenção dos coches, restaurantes e apoio ao visitante.

Orçado em 31,5 milhões de euros, provenientes das contrapartidas do Casino de Lisboa, o Museu é, segundo o seu autor, um "pavilhão de exposição em cristal e aço" que é "uma lição de evidência do homem no universo".

A estrutura central do Museu em vidro, aço e betão será "suspensa", sustentada por colunas. O acesso ao seu interior será possível por dois elevadores com capacidade, cada um, para 75 pessoas, não estando assim previstas quaisquer rampas para deficientes, esclareceu o arquitecto.

Para conceber este projecto, o arquitecto brasileiro afirmou ter tido em conta a continuidade do eixo pedonal Ajuda-Belém, prolongando-o através do passadiço até à frente ribeirinha, a elevada frequência turística da zona e "a apresentação desse tesouro incomparável que são os coches".

Paulo Mendes da Rocha recebeu em 2006 o prémio Pritzker, a maior distinção da arquitectura mundial, e é o autor, entre outras obras, do Museu Brasileiro da Escultura, em São Paulo.

NL.
Lusa/Fim

P.S.
Perdoem-me mas, para além de muitas outra questões, isto já não se pode colocar ao nível do "gosto" ou do "não gosto".
Põe-se ao nível da sobrevivência humana no planeta.
Os exemplos à população deviam vir do topo. E não o contrário.
Quando os nossos governantes intervêm, deviam deixar exemplos e métodos a serem seguidos.
Passamos agora um período em que estamos a sofrer consequências ambientais e económicas que resultam da forma de viver que nós, os humanos, provocamos ao planeta.
O efeito de estufa, o degelo, a desarborização, os problemas da qualidade e falta da água: resultam da nossa mão.
Agora temos: fome, desestabilização social, migrações (tentativas).
Muitas destas situações já não têm retorno.
Não podemos esperar pela mudança de atitude pela educação das próximas gerações.
Cada trabalho, cada acto nosso agora, não pode deixar de ser um exemplo de bem intervir no meio ambiente.
Racionalizar custos ambientais tem que ser a 1ª premissa em tudo o que se vai fazer, pois JÁ É tarde!
Não podemos permitir mais um mastodonte desnecessário, sem premissas ambientais, que vai acabar com uma das nossas melhores jóias culturais, com provas mais que dadas, que é assumido por todos como das melhores coisas a nível mundial - o actual museu dos coches.
Somos assassinos culturais e ambientais ao permitirmos ainda estes devaneios, a quem não sabe o que anda a fazer... Isto está a "sobrar" para todos nós... Desta forma, estamos a acabar com a vida no planeta em muito pouco tempo.
E isto é sobretudo arquitectura; digo, é mesmo falta dela.
Esta intervenção neste local, o mais nobre do país, na margem do Tejo, só podia ser qualquer coisa de bom, de exemplificativo do que deve ser feito em prol do nosso futuro... aliás o que agora só se devia fazer em qualquer lado!
Mas não, é perfeitamente o contrário...
Porra!
2009.03.12 Ferreira arq.

(Novo P.S.):
-Degelo dos glaciares em resultado do aquecimento global do planeta, causado pela utilização abusiva dos combustíveis fósseis - “não é verdade”.
-Até ao ano 2100 o nível das águas do mar deverá subir 1,80m (últimas previsões) (http://luismarquesdasilvaarquitectura.blogspot.com/2009/02/mar-podera-subir-180-metros-ate-2100.html)- “não senhor”.
-A acidificação das águas do mar em resultado da poluição humana, suas consequentes e gravíssimas implicações no plancton, que se irá repercutir na cadeia alimentar e em todas as formas de vida – “nada disso”.
-Destruição vegetal e consequentes alterações climatéricas - “não; são só umas arvorezitas aqui, outras alí”.
-25% das espécies vivas em risco de extinção muito em breve, face às alterações recentes que provocamos no meio ambiente - “o quê? não as conheço e são dispensáveis”.
-Convulsões sociais em resultado destes atropelos ao meio ambiente – “nem pensar; em lado nenhum; nem se irá agravar”.
-Reflexos das condições arquitectónicas dos edifícios e da forma de utilização humana que damos ao território, em tudo isto? “que estupidez, é mentira; nem somos nós que utilizamos os edifícios, nem vamos a lado nenhum para passear, nem para trabalhar; são as outras espécies de animais irracionais; eu não”.

É esta mentalidade trôpega que mantém ainda a possibilidade de se permitir a alguns (infelizmente aos que mandam) decidir a promoção de mais “coisas” estúpidas como estas, ao nível do que se fazia há quarenta anos atrás, em plena impunidade (embora já existissem bastantes alertas para estas consequências).
Agora, somos já todos vítimas disto que fomos fazendo.
Estas decisões erradas não são tiros certeiros só nos nossos filhos!... São já tiros nos nossos próprios pés. Já dói, mas fazemos de conta que não.

A arquitectura ambientalista e a intervenção minimizando devaneios no espaço urbano, tem dos reflexos mais elevados em toda a actividade humana, e por consequência no meio ambiente, que já só temos a alternativa de tentar salvaguardar.
Não temos outra, pois o caminho é o de acabar com a forma de vida, tal como a conhecemos.
Por todo o mundo, já todos perceberam isto e estão a intervir neste âmbito. Todos, menos os nossos governantes – os Portugueses. Daquele povo que foi pioneiro e timoneiro do mundo, que esteve na frente de todos os outros, aqui há poucas centenas de anos. Sim, os nossos avós. Agora nós estamos na cauda de tudo o que se faz (como no oceanário).
Só minoramos o processo se todos, e em todas as oportunidades, invertermos estes actos.

Pois sabendo isto sobejamente, vamos deixar plantar mais um elefante branco, desproporcionado e gastador, para todo o povo seguir o conselho e continuar a fazer disto, “que é inóquo”. Que bem feito, que grande exemplo.
Não há maior cego que aquele que não quer ver.

Acorda político que mandas muito, ou mesmo que mandes menos. Toma decisões acertadas.
Os cientistas já fizeram o seu trabalho ao identificar as origens dos problemas.
Os técnicos, pelo menos não agravem o problema.
Melhorem. Em TODOS os casos.
Pois se os casos emblemáticos não são o exemplo, não o serão nenhuns.

Reabilitação significa tirar partido do que já existe, melhorar, nunca agravar.
Reabilitem o museu dos coches onde está.
E se querem uma obra de regime na margem do Tejo, façam “daquelas”, do tipo “escultura”, bonita na forma, desprovida até de conteúdo, mas pequena e barata, fácil de manter, (também atrai os turistas e pode comemorar o que quiserem).
2009.03.12 Ferreira arq.

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