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JN 2009-04-08 MIGUEL CONDE COUTNHO, em Aquila
As pernas tremem por segundos e depois é o pânico
O dia seguinte ao sismo ainda é de sobressalto. As réplicas que se fazem sentir não deixam ninguém descansado. Quem sobreviveu quer esquecer.
O dia seguinte ao sismo ainda é de sobressalto. As réplicas que se fazem sentir não deixam ninguém descansado. Quem sobreviveu quer esquecer.
Vêm sem avisar, duram três ou quatro segundos e espalham o pânico generalizado. As cópias não são da dimensão do original, mas, ainda assim, as réplicas do sismo que esta segunda-feira sacudiu a região italiana de Abruzzo são suficientemente agressivas para não deixar nada nem ninguém no mesmo lugar durante muito tempo.
As pernas tremem, ao ritmo das oscilações da terra, e os gritos de pânico generalizam-se. Ontem, uma destas réplicas provocou um morto. O silêncio irrompe, depois, porque ninguém sabe muito bem o que dizer, como reagir.
O mesmo silêncio que rivaliza com as lamúrias de desespero de todos quantos vagueiam por entre os escombros e nos campos improvisados que as autoridades montaram nas imediações, à procura ora de amigos, ora de familiares. Ou simplesmente à procura de um porquê.
Paolo, 23 anos, é apenas um deles. Este jovem italiano perdeu um amigo para o amontoado de pedras e ferros. Está preso no escuro. Agarrado ao prato de massa, olhos carregados, diz não saber se há-de ter esperança. "Vi a casa de alguns amigos meus cair à frente dos meus olhos", conta. Sempre viveu em Aquila com os pais. Acabou por ter sorte. A casa onde vive não sofreu muitos danos. Os pais estão bem, mas dormem numa das tendas.
Há famílias inteiras que tentam comer o que lhes é dado pelas equipas de socorro. Vive-se uma tranquilidade possível. O silêncio é apenas cortado pelos geradores de elctricidade, espalhados um pouco por todo o campo para alimentar os fortes holofotes que iluminam as cerca de 100 tendas de campanha azuis onde dormem os que já conseguem dormir. Os outros, macambúzios, caminham sem destino. Há gente em pijama, há desgraçados abraçados a mochilas.
Mas as histórias felizes são facilmente ofuscadas pelas tragédias que se vão desenterrando entre os escombros. Também ontem, as equipas de resgate encontraram os cadáveres dos quatro jovens que haviam desaparecido numa residência estudantil da cidade. "Estão mortos. É uma tragédia", afirmou o reitor da Universidade de Aquila, Ferdinando di Orio. Com estas vítimas, estimam-se que 235 pessoas tenham morrido em consequência do terremoto, de 5,8 graus na escala Richter, que assolou Abruzzo. Os feridos rondam os 1500, 100 dos quais em estado considerado grave. E há ainda 34 desaparecidos.
"É um desastre sério. Agora nós devemos reconstruir e isso exigirá grandes quantias de dinheiro", anuiu o primeiro-ministro, Sílvio Berlusconi, cujo Governo já enfrenta um alto défice e uma grande dívida pública.
Aquila foi abalada também de outra forma. A ajuda demora a chegar porque a geografia se alterou profundamente. As linhas de autocarro estão cortadas. O comboio que parte de Roma não vai além de Terni, cidade a cerca 80 quilómteros da cidade que concentrou a tragédia. Aquila esconde-se por detrás de uma estrada sinuosa, que corta montanhas que parecem nunca acabar. Para lá, poucos querem ir. Só passam ambulâncias, carros da polícia e de bombeiros.
Num dos campos de apoio, o maior dos improvisados, cerca de mil deslocados são ajudados por centenas de voluntários da Protecção Civil italiana que trabalham sem descanso. Matteo, um dos voluntários, fez questão de dizer ao JN há quantas horas está em Aquila: 47. Descansou menos de uma. "É impossível descansar, porque as tendas são para as pessoas. Nós não temos onde dormir", desabafa. O mais provável é que durma com os colegas na pickup que os trouxe.
As pernas tremem, ao ritmo das oscilações da terra, e os gritos de pânico generalizam-se. Ontem, uma destas réplicas provocou um morto. O silêncio irrompe, depois, porque ninguém sabe muito bem o que dizer, como reagir.
O mesmo silêncio que rivaliza com as lamúrias de desespero de todos quantos vagueiam por entre os escombros e nos campos improvisados que as autoridades montaram nas imediações, à procura ora de amigos, ora de familiares. Ou simplesmente à procura de um porquê.
Paolo, 23 anos, é apenas um deles. Este jovem italiano perdeu um amigo para o amontoado de pedras e ferros. Está preso no escuro. Agarrado ao prato de massa, olhos carregados, diz não saber se há-de ter esperança. "Vi a casa de alguns amigos meus cair à frente dos meus olhos", conta. Sempre viveu em Aquila com os pais. Acabou por ter sorte. A casa onde vive não sofreu muitos danos. Os pais estão bem, mas dormem numa das tendas.
Há famílias inteiras que tentam comer o que lhes é dado pelas equipas de socorro. Vive-se uma tranquilidade possível. O silêncio é apenas cortado pelos geradores de elctricidade, espalhados um pouco por todo o campo para alimentar os fortes holofotes que iluminam as cerca de 100 tendas de campanha azuis onde dormem os que já conseguem dormir. Os outros, macambúzios, caminham sem destino. Há gente em pijama, há desgraçados abraçados a mochilas.
Mas as histórias felizes são facilmente ofuscadas pelas tragédias que se vão desenterrando entre os escombros. Também ontem, as equipas de resgate encontraram os cadáveres dos quatro jovens que haviam desaparecido numa residência estudantil da cidade. "Estão mortos. É uma tragédia", afirmou o reitor da Universidade de Aquila, Ferdinando di Orio. Com estas vítimas, estimam-se que 235 pessoas tenham morrido em consequência do terremoto, de 5,8 graus na escala Richter, que assolou Abruzzo. Os feridos rondam os 1500, 100 dos quais em estado considerado grave. E há ainda 34 desaparecidos.
"É um desastre sério. Agora nós devemos reconstruir e isso exigirá grandes quantias de dinheiro", anuiu o primeiro-ministro, Sílvio Berlusconi, cujo Governo já enfrenta um alto défice e uma grande dívida pública.
Aquila foi abalada também de outra forma. A ajuda demora a chegar porque a geografia se alterou profundamente. As linhas de autocarro estão cortadas. O comboio que parte de Roma não vai além de Terni, cidade a cerca 80 quilómteros da cidade que concentrou a tragédia. Aquila esconde-se por detrás de uma estrada sinuosa, que corta montanhas que parecem nunca acabar. Para lá, poucos querem ir. Só passam ambulâncias, carros da polícia e de bombeiros.
Num dos campos de apoio, o maior dos improvisados, cerca de mil deslocados são ajudados por centenas de voluntários da Protecção Civil italiana que trabalham sem descanso. Matteo, um dos voluntários, fez questão de dizer ao JN há quantas horas está em Aquila: 47. Descansou menos de uma. "É impossível descansar, porque as tendas são para as pessoas. Nós não temos onde dormir", desabafa. O mais provável é que durma com os colegas na pickup que os trouxe.
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