Na foto: Jorge Santos Silva, Paulo Ferrero, Nuno Santos Silva, Luis Marques da Silva: os "operacionais"do movimento cívico Forum Cidadania Lx
Por Margarida Davim
Chamam-lhes fundamentalistas, velhos do Restelo, D. Quixotes. Escrevem diariamente num blog, lançam petições na Internet, dão entrevistas aos media e dizem só ter em comum o amor por Lisboa e a vontade de lutar por causas ligadas ao património, à mobilidade e ao ambiente.
Paulo Ferrero tem 45 anos e é licenciado em Economia, mas há cinco anos que dedica todo o tempo livre ao Fórum Cidadania Lx. A ideia surgiu para tentar impedir a demolição da casa Garrett e deu lugar a um blog onde se foram juntando pessoas, “do BE ao CDS”. O edifício foi demolido, mas o Fórum cresceu. Hoje, tem112 membros e um site com uma média de 600 visitas diárias.
“Somos um movimento de causas”, define Ferrero, que sublinha o facto de se tratar de uma “associação informal” completamente apartidária, mas não apolítica”. O activista só conhece pessoalmente metade dos elementos do Fórum, mas explica que entre os que colaboram “há gestores, advogados, médicos, gente ligada aos media, ás artes e espectáculos arquitectos, engenheiros, estudantes…Novos e velhos”. Todos conciliam a vida profissional com a actividade cívica e alguns moram mesmo no estrangeiro. “Sem Internet não havia nada disto”, diz Paulo Ferrero, lembrando que “tudo é feito a custo zero”.
Lutar contra moinhos de vento
Luis Marques da Silva tem 46 anos e é arquitecto. Passa os dias entre Lisboa e o Porto e aproveita os fins-de-semana para escrever petições, distribuir folhetos e andar pela cidade à procura do que está mal. “Já nos chamaram malucos, mas as nossas causas não são moinhos de vento, são monstros”, diz lembrando uma das vitórias do movimento: graças a uma petição (que reuniu mais de cinco mil assinaturas), o projecto dos arquitectos Valsassina e Aires Mateus para o Largo do Rato foi travado. “O que estava projectado era excessivo em termos de volumetria e desenquadrado do contexto sócio-urbano da zona” justifica.
Foi, aliás, esse projecto que o levou a juntar-se ao Fórum Cidadania, mas Marques da Silva é também um dos mais activos na contestação ao novo Museu dos Coches. Antes já tinha dado a cara pelo movimento Em Defesa do Bolhão, no Porto. “Posso até ser penalizado em termos profissionais, mas não consigo assistir impávido à destruição desta bela cidade”, afirma.
“As nossas próximas batalhas tanto podem ser a colocação de semáforos num sitio qualquer, como a defesa de um edifício histórico”, adianta Nuno Santos Silva. O jurista de 33 anos confessa que muitos dos temas que leva para o Fórum nas cem quando está “no transito ou nos transportes públicos”. A mobilidade é o assunto que mais o motiva e diz que, por isso, já está habituado “a receber muitos insultos e comentários menos simpáticos” no site.
Mas a polémica surge mesmo dentro do “núcleo operacional” do movimento. Jorge Santos Silva, 44 anos, licenciado em História revela ser contra uma das iniciativas do Fórum: “Não posso aceitar que se coloquem autocolantes nos automóveis mal estacionados, até porque eles estragam os carros”.
Santos Silva descobriu por experiência própria a dificuldade que os cidadãos têm em ser ouvidos. “Moro num prédio na Alameda D. Afonso Henriques, que é propriedade do Ministério da Saúde, e ameaça ruir”, conta acrescentando que “foi só depois de ter chamado os jornais e as televisões que o assunto começou a ser resolvido”.
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COMENTÁRIO:
Cito:
...”aos meus ombros, minha filha, de 3 anos, com um cravo vermelho na mão, gritava também, contagiada por tanta felicidade: "Liberdade! Liberdade!". Há 35 anos era a Revolução. Depois foi (é) que se sabe. Diz Carlyle na sua "História da Revolução Francesa" que as revoluções são sonhadas por idealistas e realizadas por fanáticos, e quem delas se aproveita são os oportunistas de todas as espécies.”(Manuel António Pina – 35 anos depois - JN, 2009.04.24)
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Cito:
..."«Nós temos o governo que merecemos, temos os partidos que merecemos, temos os subsistemas de saúde e educação que merecemos, porque somos responsáveis pela nossa sociedade», disse Ramalho Eanes, depois de citar um autor espanhol que responsabilizava os povos submetidos a regimes tirânicos, pela incapacidade de se revoltarem.«Cabe-nos a nós impor regras, exigir condutas e, quando for necessário, substituirmos os governantes», frisou Ramalho Eanes, no colóquio moderado pelo jornalista Adelino Gomes,"...(http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=133040) .
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Neste dia especial, face a tudo o que os cidadãos sentem na pele, é com enorme alegria e satisfação que vemos uma reportagem de um semanário, “O Sol”, sobre o “Cidadania Lx”.Longe dos oportunistas, pessoas de todas as áreas unem-se em defesa do seu direito democrático de pugnar pela defesa dos interesses sociais e colectivos.
Aqui, o direito e dever de participação da sociedade civil é levado à letra. Sem o medo que se enraizou na vida do dia a dia dos portugueses, que fogem de opinar sobre qualquer atitude ou acção promovida por quem está incumbido de exercer os direitos públicos, como se com isso lhes fosse tirado o parco pão à boca dos filhos.
Os encartados do poder, que quase sempre nasceram iluminados na prerrogativa de que sabem tudo e de tudo, têm aqui a boa vontade de quem, se necessário, rema contra a maré dos individualistas e oportunistas, impedindo que se transforme a cidade de todos, numa coutada de uns poucos.
É esta mais-valia que os nossos políticos responsáveis têm que saber aproveitar, conseguindo com isso minorar erros e desvarios de todas as sanguessugas que quase sempre os rodeiam. Muitas vezes, sem a devida ponderação, implementam actos que resultam em enormes encargos para o povo, a nível económico, ambiental, social, etc.
Aprendam a houvir o povo, tal como este se mostra aqui no Fórum Cidadania, que só têm a ganhar com isso.
Está de parabéns “O Sol”, que tem os ouvidos limpos e está atento, mas ainda mais, estão de parabéns todos os colaboradores do Cidadania Lx pelo seu empenhamento na construção de uma sociedade melhor.
Ferreira arq.