12/06/09 00:01 Daniel Amaral
Depois de um ano dramático, já é possível estabelecer consensos: a recuperação vai ser muito lenta e nós ainda mais lentos do que os outros.
A face mais visível da crise está no nosso crescimento potencial, que potencia o pior. Se fossemos um país a sério, já estaríamos a discutir soluções. Como levamos a coisa a rir, ainda estamos a procurar culpados - os outros. Muito bem. Fechemos então este ciclo: de quem é a culpa?
Num país que definha pela fraca produtividade, que não o deixa competir na ordem externa, a tentação é olhar para o elo mais fraco: os culpados são os trabalhadores, que produzem pouco e ganham de mais. E é sempre fácil encontrar números que confirmam a tese: para uma média europeia igual a 100, o nosso rendimento per capita era de 79 à entrada no euro e é hoje de 73; e o peso dos nossos salários no PIB é de 50%, contra 48% do conjunto.
Mas esta análise é injusta. Não há um factor produtivo, mas dois: o capital e o trabalho. E todos sabemos que um aluno cábula, munido de calculadora, é mais rápido a fazer contas do que o professor sem apoio que ganhou o Nobel da matemática. O mesmo conceito é transponível para o interior das empresas: onde estão os investimentos produtivos, as organizações funcionais, os ambientes de trabalho que potenciem uma produtividade melhor?
Adivinho muitas orelhas a arder. Mas, em boa verdade, as empresas também podem empurrar as culpas para quem lhes enquadra a actividade. Elas investem dinheiro, adquirem equipamentos, contratam pessoas e, em última análise, consideram-se eficientes quanto baste. O problema está no empecilho governamental: as leis hediondas, os transportes paupérrimos, a formação sem jeito, os impostos brutais. Dêem-lhes um governo a sério e elas dominarão o mundo.
Sucede que quem escolhe os governos somos nós, o que transfere a responsabilidade para o degrau seguinte. Se somos nós que escolhemos os governos, que definem o enquadramento das empresas, que contratam os trabalhadores, que pelos vistos têm uma produtividade baixíssima - então somos nós que "produzimos" pouco e "trabalhamos" mal. A responsabilidade deve ser assumida por todos, em partes iguais.
Bom, talvez alguns sejam mais iguais do que outros...
d.amaral@netcabo.pt
Depois de um ano dramático, já é possível estabelecer consensos: a recuperação vai ser muito lenta e nós ainda mais lentos do que os outros.
A face mais visível da crise está no nosso crescimento potencial, que potencia o pior. Se fossemos um país a sério, já estaríamos a discutir soluções. Como levamos a coisa a rir, ainda estamos a procurar culpados - os outros. Muito bem. Fechemos então este ciclo: de quem é a culpa?
Num país que definha pela fraca produtividade, que não o deixa competir na ordem externa, a tentação é olhar para o elo mais fraco: os culpados são os trabalhadores, que produzem pouco e ganham de mais. E é sempre fácil encontrar números que confirmam a tese: para uma média europeia igual a 100, o nosso rendimento per capita era de 79 à entrada no euro e é hoje de 73; e o peso dos nossos salários no PIB é de 50%, contra 48% do conjunto.
Mas esta análise é injusta. Não há um factor produtivo, mas dois: o capital e o trabalho. E todos sabemos que um aluno cábula, munido de calculadora, é mais rápido a fazer contas do que o professor sem apoio que ganhou o Nobel da matemática. O mesmo conceito é transponível para o interior das empresas: onde estão os investimentos produtivos, as organizações funcionais, os ambientes de trabalho que potenciem uma produtividade melhor?
Adivinho muitas orelhas a arder. Mas, em boa verdade, as empresas também podem empurrar as culpas para quem lhes enquadra a actividade. Elas investem dinheiro, adquirem equipamentos, contratam pessoas e, em última análise, consideram-se eficientes quanto baste. O problema está no empecilho governamental: as leis hediondas, os transportes paupérrimos, a formação sem jeito, os impostos brutais. Dêem-lhes um governo a sério e elas dominarão o mundo.
Sucede que quem escolhe os governos somos nós, o que transfere a responsabilidade para o degrau seguinte. Se somos nós que escolhemos os governos, que definem o enquadramento das empresas, que contratam os trabalhadores, que pelos vistos têm uma produtividade baixíssima - então somos nós que "produzimos" pouco e "trabalhamos" mal. A responsabilidade deve ser assumida por todos, em partes iguais.
Bom, talvez alguns sejam mais iguais do que outros...
d.amaral@netcabo.pt
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