quinta-feira, 25 de junho de 2009

JN - Paulo Morais - Alta velocidade eleitoral

JN 20090624
http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Paulo%20Morais

Está encontrado o tema central da campanha para as eleições legislativas: a alta velocidade ferroviária, vulgo TGV. Consciente dum sentimento geral de oposição ao projecto, Manuela Ferreira Leite, por táctica ou convicção, parece decidida a opor-se à alta velocidade ferroviária. E ainda bem.

A construção do TGV, que orça em valores da ordem dos 15 mil milhões de euros, irá comprometer orçamentos de estado para três gerações. Estes gastos, feitos num país pobre, não fazem qualquer sentido. Seria como se um cidadão que andasse descalço e roto pretendesse comprar um Rolls Royce. O TGV não apresenta nenhum dos requisitos mínimos a que deve submeter-se uma qualquer obra pública. Não é economicamente viável, o investimento jamais se recupera e a exploração comercial é muito deficitária. Não induz sequer criação de riqueza. Acresce que o TGV retalhará o território, dividindo aldeias e criando barreiras entre localidades. Seria o maior atentado ao território, em particular no norte densamente povoado. Por último, nem sequer é aceitável do ponto de vista da coesão social, pois só uma ínfima minoria irá utilizar este transporte.

E, no entanto, José Sócrates persiste neste disparate. Ao pretender desbaratar os nossos impostos neste elefante branco, o primeiro-ministro surge agora aos olhos da opinião pública como o coveiro da economia portuguesa. Tenta justificar o TGV como projecto estratégico, mas tem do seu lado apenas o apoio do grande capital - da alta finança, que pretende negociar empréstimos sem risco, e das maiores construtoras, que dominam a política portuguesa.

Será pois este o tema das eleições. Que o PSD ganhará, se conseguir convencer o eleitorado de que, no governo, abandona a alta velocidade ferroviária. Tal não será fácil, pois Ferreira Leite tem um problema de credibilidade, já que foi figura central desse governo de Durão Barroso que anunciou baixar os impostos e aumentou o IVA, que garantiu abandonar a construção do aeroporto da Ota e foi o principal responsável pela sua concepção. Tem ainda um terrível calcanhar de Aquiles: alguns dos membros da direcção nacional do PSD estão altamente comprometidos, enquanto advogados, com os interesses ligados ao TGV.

Não será pois fácil a tarefa da presidente do PSD. Até porque sempre é mais fácil acreditar que Sócrates faz o TGV; do que fazer fé na coerência e determinação de Manuela Ferreira Leite, quando promete que o não faz.

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