segunda-feira, 11 de maio de 2009

Terreiro do Paço - Era isto que se temia... esqueceram-se que uma praça mostra a alma de um povo.


A placa central em tons de amarelo, passeios laterais com mais 16 metros e uma redução do trânsito automóvel. Em Outubro do próximo ano a Praça do Comércio, em Lisboa, deverá apresentar-se com uma imagem renovada. O projecto foi ontem apresentado.
"Queremos uma tonalidade que não seja calçada branca, vamos apostar nos amarelos para mudar a imagem", disse o arquitecto responsável pelo projecto de requalificação de uma das principais praças da capital, Bruno Soares.
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Segundo o presidente da Sociedade Frente Tejo, João Biancard Cruz, as obras deverão terminar em Outubro de 2010. Não revelando o custo do projecto do Terreiro do Paço, Biancard Cruz recorda que o custo global da Frente Ribeirinha será de 8,5 milhões de euros".
In DN (imagem do Publico)
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???? ERA ISTO QUE SE TEMIA... esqueceram-se que uma praça mostra a alma de um povo.

Fizeram uns risquinhos dentro do escritório e estudaram umas funcionalidades... fizeram um postal em 3D e agora vêem-nos contar umas histórias...
É isto que, quem manda, anda agora a mandar fazer!
Querem o "seu" risco, para mandar fazer a "sua" obra…
E não querem saber de qualidade, nem do património, nem de consultar a população antes de executar obras públicas infraestruturais, tais como a legislação impõe.

Na opinião que já aqui havia emitido sobre as alterações ao Terreiro do Paço ( http://forumsociedadecivil.blogspot.com/2009/04/praca-do-terreiro-do-paco-arborizar-sem.html ), tinha salientado aquilo que é fundamental salvaguardar: a alma da principal praça do país, a sua utilização pelas pessoas, pelos Lisboetas, pelos Portugueses, pelos turistas...
É muito mais fácil complicar tudo e ter custos elevados, do que conseguir isso, que pode até ter custos reduzidos e ser uma proposta simples.

Vejamos:
-primeiro: perceber e respeitar o local - o estudo não tem que ver com nada disto, intervêem tal como se estivessem a fazer uma praça nova - ZERO.

-segundo: a praça só vai ter dinamismo se cativar lá as pessoas - esta proposta cativa tanto o "estar/conviver" na praça, pelas pessoas, tal como o velho parque de estacionamento – ZERO. (As pessoas não vão estar a utilizar a praça por ordem do despacho político - ou o espaço é adequado e as cativa, ou não ficam lá - talvez o autor do estudo lá fique no meio durante algum tempo e quando ficar sozinho...vai-se também embora!).

-terceiro: o espaço/praça? o sentido acolhedor do espaço? - as ÁRVORES? (o melhor meio para diminuir a "aridez" da dimensão daquele espaço?) Quer dizer: ANDARAM A TRATAR DOS RISQUINHOS E DA CÔR PARA OS PAVIMENTOS, da circulação viária e pedonal... e esqueceram-se de tratar do “espaço/praça”??? Mas isso é que era primordial no projecto - estabelecer um sentimento de utilização de uma praça, entender a praça no todo, dar-lhe vida (não é só dizer por onde as pessoas ou os carros devem passar, pois isso é básico demais - e se o projecto é apenas o que se vê no 3D, foi isso que aconteceu – ZERO.

-quarto: mobiliário urbano milagreiro? Árvores envasadas? Será essa a “pomada” para abrilhantar e mascarar a obra? - tudo está para aí propiciado: CHEIRA A PLÁSTICO, num lugar como aquele; cheira mesmo muito; parece mesmo uma daquelas coisas que se faz nas áreas interiores das grandes zonas comerciais, feitas para durar meia dúzia de anos, se tanto, e acabam como estão a acabar os velhos centros comerciais; e que aí resultam como qualquer outro pastiche passageiro, que é devidamente reconhecido como tal! - é isto que queremos para a principal praça do país? – Não vale mais que isso? - Não é um espaço exterior de referência? Não deverá constituir e propiciar uma utilização pela população que seja durável? - que faça parte da sua cultura e a perpetue? - que ganhe alma e sentimento? que se enraíze e acompanhe o crescimento dos nossos filhos? – que vá evoluindo connosco? - que venha com isso a integrar também uma mais-valia no nosso património? – ZERO.

-quinto: considerando que pelo menos os estudos de circulação e alternativas tenham sido bem estudados, para se fazer a redução de tráfego que se propõe, seria de aproveitar a amplitude dos espaços pedonais que se propõe... e arborizar... com árvores de copa baixa, que dessem sombra, cor, aroma, com florações em períodos alternados, etc; que fixassem as pessoas, não pela sua beleza, não pelo espanto do olhar, mas sim pelo acolhimento do espaço; pela suavidade do estar; pela diminuição do stress urbano que a envolvente das árvores nos provoca. E não precisam ser demasiadas que não é para criar um jardim – ZERO.

-sexto: com a riqueza, simplicidade e funcionalidade subjacente à elaboração da Baixa Pombalina, como se pode complicar tanto esta praça?... com tantos arabescos??? Tem que ser de uma geometria simples, mesmo muito simples e proporcionada, e podem ter muito a dizer sobre a nossa história, sobre como foi criado um novo centro para a cidade, ao melhor nível de sistematização e funcionalidade urbanas que havia no mundo - estruturou a ordem, a vivência e desenvolvimento social para vários séculos (e foi um exemplo para muito do que se fez depois no país e no mundo). POR FAVOR: consultem os estudiosos dos planos da baixa, que os temos... vários – ZERO.

-sétimo: podem da mesma forma vir a fazer "postais" muito bonitos do local, com uma intervenção simples, porque o que nos irá dignificar é se os postais mostrarem uma sociedade a viver a praça - se se virem lá as pessoas!!! - que seja o reflexo de uma Lisboa, de um país com alma, dinâmico e que utiliza o que cria, porque cria aquilo que é adequado, em que se sente bem – ZERO.

O Terreiro do Paço só cumprirá a sua função se servir verdadeiramente como PRAÇA… e para isso terá que ter condições de utilização e vivência adequada das pessoas… TERÁ QUE TER ALMA!
A PRAÇA É PARA AS PESSOAS.
Ferreira arq.
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Comentário publicado em cidadanialx:
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Há propostas muito directas de como devem ser tratados estes casos.
A consulta pública em casos tão referenciais é fundamental.
Fugir-lhe resulta nisto: um estudo final que não contempla premissas básicas e passa a ser alvo de críticas mordazes, com razão.
E isto é que é grave: as coisas resultam de tal forma que, mesmo que tenham alguma parte válida, até isso passa a ser nivelado por baixo, atendendo à necessidade de tentar corrigir o erro. De tentar fazer com que a futura obra (que é o que interessa) não enferme dos vícios que foram detectados.
Os projectos servem para isso -para testar uma solução e permitirem executar a obra de forma adequada.
Corrigir um projecto enfermo é uma virtude de quem sabe o que anda a fazer.
Persistir no erro que foi detectado por quem sabe, não é virtude nenhuma: é burrice.
Infelizmente tem sido apanágio comum dos nossos políticos, que quase sempre evitam os conselhos de quem sabe.
Olhem o que aconteceu na Av. dos Aliados, no Porto. Houve uma enorme contestação ao projecto por parte dos especialistas na área do património e Rui Rio fez orelhas moucas.
Só passados vários anos veio reconhecer, á evidencia da obra, que de facto devia ter sido bem melhor - estragou-se património que o povo considerava.
Aprendendo com os erros dos outros: aqui pode-se fazer muito melhor que isto, que não vai dignificar ninguém, muito pelo contrário - não se vai criar um espaço que cative a utilização, e vai-se estragar o dinheiro que não temos...
Não há autores milagreiros que acertem sempre em todos os projectos.
Por vezes sai nódoa... e esta é muito grande.
Ferreira arq.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda não existe nenhuma petição a circular contra este projecto hediondo, medíocre e provinciano? Quero assiná-la!

E concurso público? Não houve?