http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1215237&opiniao=Paulo%20Morais
JN 2009-04-29
Três eleições à porta. Europeias, legislativas e autárquicas, uma tragédia em três actos. Actos eleitorais. Numa democracia saudável, este seria um momento de esperança, de afirmação de alternativas. Mas nesta partidocracia decadente, os sufrágios anunciam-se com angústia. O regime é depressivo, os cidadãos estão deprimidos.
O primeiro acto terá lugar daqui a pouco mais de um mês. Antevê-se uma fortíssima abstenção. Os poucos que forem às urnas elegem uns quantos parlamentares cujas funções e atribuições não se conhecem. Os próprios candidatos ignoram o que vão para lá fazer. A eleição para o Parlamento Europeu serve, de facto, para muito pouco. Ao mesmo tempo, o que verdadeiramente interessa, a designação do presidente da Comissão Europeia, depende apenas dum conselho de primeiros-ministros, dominado por quatro ou cinco países. Para quê chamar milhões a votar, se quatro decidem tudo sozinhos?
O segundo acto terá lugar lá para o fim do Verão, as legislativas. Na campanha, os partidos não defenderão ideias ou ideais. E, quando o fizerem, é pouco provável que os cumpram; isto a fazer fé na experiência recente. Mentem, já sem pudor. Sendo previsível a perda da maioria absoluta por parte do Partido Socialista, teme-se que o PSD viabilize um novo bloco central de má memória. Seria a consagração na política do bloco central de interesses que já domina o país nos planos económico e social.
Finalmente, as autárquicas. Na maioria dos municípios, as câmaras continuarão a esquecer o que deveria ser a sua missão primordial: conservar e manter o espaço público e gerir harmoniosamente o território. Por outro lado, o urbanismo permanecerá refém das negociatas com os empreiteiros do regime e continuarão a acumular-se tachos e empregos para os apaniguados do partido. Com excepções - é certo - irá deteriorar-se a qualidade de vida, degradar-se-á ainda mais a paisagem, enquanto se fortalecem os mais perversos interesses.
Há que reescrever o enredo desta tragicomédia. Só um sobressalto cívico nos pode tirar deste torpor que nos encaminha para o abismo. O povo dispõe ainda dessa arma poderosa, o voto, que deve usar de forma inteligente e estratégica. Mais do que nunca, o voto de protesto, de apoio aos sinais da mudança, é o único eficaz. As eleições já não são o acto em que o povo escolhe quem comanda os seus destinos. Mas são ainda o momento em que, pelo menos, podemos decidir quem não manda.
JN 2009-04-29
Três eleições à porta. Europeias, legislativas e autárquicas, uma tragédia em três actos. Actos eleitorais. Numa democracia saudável, este seria um momento de esperança, de afirmação de alternativas. Mas nesta partidocracia decadente, os sufrágios anunciam-se com angústia. O regime é depressivo, os cidadãos estão deprimidos.
O primeiro acto terá lugar daqui a pouco mais de um mês. Antevê-se uma fortíssima abstenção. Os poucos que forem às urnas elegem uns quantos parlamentares cujas funções e atribuições não se conhecem. Os próprios candidatos ignoram o que vão para lá fazer. A eleição para o Parlamento Europeu serve, de facto, para muito pouco. Ao mesmo tempo, o que verdadeiramente interessa, a designação do presidente da Comissão Europeia, depende apenas dum conselho de primeiros-ministros, dominado por quatro ou cinco países. Para quê chamar milhões a votar, se quatro decidem tudo sozinhos?
O segundo acto terá lugar lá para o fim do Verão, as legislativas. Na campanha, os partidos não defenderão ideias ou ideais. E, quando o fizerem, é pouco provável que os cumpram; isto a fazer fé na experiência recente. Mentem, já sem pudor. Sendo previsível a perda da maioria absoluta por parte do Partido Socialista, teme-se que o PSD viabilize um novo bloco central de má memória. Seria a consagração na política do bloco central de interesses que já domina o país nos planos económico e social.
Finalmente, as autárquicas. Na maioria dos municípios, as câmaras continuarão a esquecer o que deveria ser a sua missão primordial: conservar e manter o espaço público e gerir harmoniosamente o território. Por outro lado, o urbanismo permanecerá refém das negociatas com os empreiteiros do regime e continuarão a acumular-se tachos e empregos para os apaniguados do partido. Com excepções - é certo - irá deteriorar-se a qualidade de vida, degradar-se-á ainda mais a paisagem, enquanto se fortalecem os mais perversos interesses.
Há que reescrever o enredo desta tragicomédia. Só um sobressalto cívico nos pode tirar deste torpor que nos encaminha para o abismo. O povo dispõe ainda dessa arma poderosa, o voto, que deve usar de forma inteligente e estratégica. Mais do que nunca, o voto de protesto, de apoio aos sinais da mudança, é o único eficaz. As eleições já não são o acto em que o povo escolhe quem comanda os seus destinos. Mas são ainda o momento em que, pelo menos, podemos decidir quem não manda.
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