JN 2009.11.23
ANA PEIXOTO FERNANDES
Dizem que as despesas da demolição são uma espécie de TGV.
O coordenador nacional do Programa Polis afirmou há poucos dias que a demolição do prédio Coutinho "é irreversível". Dos 300 moradores iniciais restam 40, resistentes que alertam para o preço da decisão.
O desassossego instalou-se já lá vão quase dez anos no prédio Coutinho em Viana do Castelo. Desde que a demolição do imóvel foi anunciada no Verão de 2000, a vida dos moradores nunca mais foi a mesma. Alguns já morreram, outros cederam as suas casas ao Polis e um grupo de resistentes luta nos tribunais para não sair. Muitos milhões de euros, não se sabe quantos, foram gastos, entretanto. "Isto é um TGV. Os gestores públicos deviam ter vergonha. Os Leites, os Correias, os Sócrates, deviam ter vergonha. No final esta saga vai custar tanto como um TGV", protesta Alcino Lemos, referindo-se a Pinto Leite, actual coordenador do Polis, ao ex-ministro do Ambiente, Nunes Correia e ao actual Primeiro Ministro, José Sócrates. Com 70 anos recém-cumpridos, este morador que é, desde que estalou a polémica, um dos rostos da contestação contra o abate do prédio de 13 andares, alerta, juntamente com o seu núcleo duro de contestatários da demolição, para as despesas incalculáveis que o processo de demolição deverá acarretar até ao seu desfecho nos tribunais.
"Isto é uma acção concertada de gente para quem o dinheiro não conta", acusa o porta-voz da Comissão de Moradores, Abílio Teixeira.
De momento não haverá um calculo do montante gasto pela VianaPolis, sociedade gestora do programa Polis de Viana do Castelo, ao longo da última década, mas os moradores descontentes apontam como exemplo a despesa de "1500 euros por mês" que a empresa paga de condomínio no imóvel e os "cerca de 250 mil euros" pagos ao último proprietário a abandonar o prédio há aproximadamente três anos.
Das 90 fracções (300 moradores) e 15 lojas que prefazem o prédio Coutinho, 44 fracções e a totalidade das lojas estarão já na posse da VianaPolis, em resultado de um longo processo de expropriações e negociações com inquilinos e proprietários. Para financiar a polémica demolição, foi assinado em Julho de 2005, entre a Parque Expo, a VianaPolis e a Comissão de Coordenação do Desenvolvimento Regional do Norte, um contrato-programa no valor global de 13,5 milhões de euros, que previa uma comparticipação da Administração Central de 3,7 milhões de euros. O na altura ministro do Ambiente, Nunes Correia anunciou que a operação se iria concretizar em 2007 com um gasto total de três milhões de euros. Esta semana, o coordenador nacional do Programa Polis, José Pinto Leite, afirmou que a demolição, em processo de decisão nos tribunais, "é irreversível". "Isto não vai ser fácil de resolver, mas se desistissem (da demolição) nós tomávamos conta do orçamento da Câmara de Viana por muitos anos", ironiza Alcino Lemos.
Quase não há moradores com menos de 70 anos
Moradores com menos de 70 anos de idade é coisa que hoje praticamente já não existe no prédio Coutinho, numa referência a Fernando Coutinho, um antigo emigrante no Zaire, que o construiu em meados da década de 70. Ao longo dos últimos quase dez anos alguns habitantes (a Comissão que os representa contou cinco) morreram sem ver fim à polémica que os desassossegava. Outros foram-se debilitando cada vez mais.
Talvez por este facto e porque há alguns anos, o ex-autarca de Viana do Castelo, Defensor Moura declarou, para grande revolta no prédio, que "a morte não estava longe dos moradores do Coutinho", uma afirmação feita esta semana pelo coordenador nacional do Polis, Pinto Leite, voltou a causa incómodo entre os habitantes.
"O tempo também resolve. Das cerca de 300 pessoas que inicialmente viviam no prédio, neste momento estarão lá 40 ou menos. O prédio vai sendo esvaziado e, portanto, acabará por estar completamente vazio e poderá ser demolido nessa altura», referiu Pinto Leite.
"Querem-nos vencer pelo cansaço. E o problema é que realmente o tempo passa e a morte já não estará muito distante. O Defensor Moura tinha razão, era médico e sabia", comenta acutilante Alcino Lemos, para mais à frente referir: "Esvaziar o prédio é por morte ou por negociação, mas isto nem que morram todos, não se resolve.Já disse aos meus filhos qual é a minha vontade". E para dar a noção do tempo, Lemos pergunta: "Sabe com quantos Governos já corremos? Foram o Guterres, o Durão Barroso, o Santana Lopes e o Sócrates, vamos lá ver por quanto tempo".
No prédio, que o JN visitou ontem, uma sensação de vazio não passa despercebida. Abílio Teixeira, que ainda o habita, admite: "Passou a ser mais frio.
Não tem calor humano". Olhando a fachada virada ao jardim marginal de Viana, vislumbram-se algumas janelas abertas. Vê-se uma mulher idosa em camisa a olhar para a zona ajardinada onde crianças brincam e os adultos passeiam os filhos ou os cães.
Os idosos passam indiferentes ao grande edifício. A maioria das janelas do Coutinho tem as persianas amareladas. Há muito que estão fechadas.
Dizem que as despesas da demolição são uma espécie de TGV.
O coordenador nacional do Programa Polis afirmou há poucos dias que a demolição do prédio Coutinho "é irreversível". Dos 300 moradores iniciais restam 40, resistentes que alertam para o preço da decisão.
O desassossego instalou-se já lá vão quase dez anos no prédio Coutinho em Viana do Castelo. Desde que a demolição do imóvel foi anunciada no Verão de 2000, a vida dos moradores nunca mais foi a mesma. Alguns já morreram, outros cederam as suas casas ao Polis e um grupo de resistentes luta nos tribunais para não sair. Muitos milhões de euros, não se sabe quantos, foram gastos, entretanto. "Isto é um TGV. Os gestores públicos deviam ter vergonha. Os Leites, os Correias, os Sócrates, deviam ter vergonha. No final esta saga vai custar tanto como um TGV", protesta Alcino Lemos, referindo-se a Pinto Leite, actual coordenador do Polis, ao ex-ministro do Ambiente, Nunes Correia e ao actual Primeiro Ministro, José Sócrates. Com 70 anos recém-cumpridos, este morador que é, desde que estalou a polémica, um dos rostos da contestação contra o abate do prédio de 13 andares, alerta, juntamente com o seu núcleo duro de contestatários da demolição, para as despesas incalculáveis que o processo de demolição deverá acarretar até ao seu desfecho nos tribunais.
"Isto é uma acção concertada de gente para quem o dinheiro não conta", acusa o porta-voz da Comissão de Moradores, Abílio Teixeira.
De momento não haverá um calculo do montante gasto pela VianaPolis, sociedade gestora do programa Polis de Viana do Castelo, ao longo da última década, mas os moradores descontentes apontam como exemplo a despesa de "1500 euros por mês" que a empresa paga de condomínio no imóvel e os "cerca de 250 mil euros" pagos ao último proprietário a abandonar o prédio há aproximadamente três anos.
Das 90 fracções (300 moradores) e 15 lojas que prefazem o prédio Coutinho, 44 fracções e a totalidade das lojas estarão já na posse da VianaPolis, em resultado de um longo processo de expropriações e negociações com inquilinos e proprietários. Para financiar a polémica demolição, foi assinado em Julho de 2005, entre a Parque Expo, a VianaPolis e a Comissão de Coordenação do Desenvolvimento Regional do Norte, um contrato-programa no valor global de 13,5 milhões de euros, que previa uma comparticipação da Administração Central de 3,7 milhões de euros. O na altura ministro do Ambiente, Nunes Correia anunciou que a operação se iria concretizar em 2007 com um gasto total de três milhões de euros. Esta semana, o coordenador nacional do Programa Polis, José Pinto Leite, afirmou que a demolição, em processo de decisão nos tribunais, "é irreversível". "Isto não vai ser fácil de resolver, mas se desistissem (da demolição) nós tomávamos conta do orçamento da Câmara de Viana por muitos anos", ironiza Alcino Lemos.
Quase não há moradores com menos de 70 anos
Moradores com menos de 70 anos de idade é coisa que hoje praticamente já não existe no prédio Coutinho, numa referência a Fernando Coutinho, um antigo emigrante no Zaire, que o construiu em meados da década de 70. Ao longo dos últimos quase dez anos alguns habitantes (a Comissão que os representa contou cinco) morreram sem ver fim à polémica que os desassossegava. Outros foram-se debilitando cada vez mais.
Talvez por este facto e porque há alguns anos, o ex-autarca de Viana do Castelo, Defensor Moura declarou, para grande revolta no prédio, que "a morte não estava longe dos moradores do Coutinho", uma afirmação feita esta semana pelo coordenador nacional do Polis, Pinto Leite, voltou a causa incómodo entre os habitantes.
"O tempo também resolve. Das cerca de 300 pessoas que inicialmente viviam no prédio, neste momento estarão lá 40 ou menos. O prédio vai sendo esvaziado e, portanto, acabará por estar completamente vazio e poderá ser demolido nessa altura», referiu Pinto Leite.
"Querem-nos vencer pelo cansaço. E o problema é que realmente o tempo passa e a morte já não estará muito distante. O Defensor Moura tinha razão, era médico e sabia", comenta acutilante Alcino Lemos, para mais à frente referir: "Esvaziar o prédio é por morte ou por negociação, mas isto nem que morram todos, não se resolve.Já disse aos meus filhos qual é a minha vontade". E para dar a noção do tempo, Lemos pergunta: "Sabe com quantos Governos já corremos? Foram o Guterres, o Durão Barroso, o Santana Lopes e o Sócrates, vamos lá ver por quanto tempo".
No prédio, que o JN visitou ontem, uma sensação de vazio não passa despercebida. Abílio Teixeira, que ainda o habita, admite: "Passou a ser mais frio.
Não tem calor humano". Olhando a fachada virada ao jardim marginal de Viana, vislumbram-se algumas janelas abertas. Vê-se uma mulher idosa em camisa a olhar para a zona ajardinada onde crianças brincam e os adultos passeiam os filhos ou os cães.
Os idosos passam indiferentes ao grande edifício. A maioria das janelas do Coutinho tem as persianas amareladas. Há muito que estão fechadas.
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