sexta-feira, 3 de julho de 2009

JN - Arq. José Carlos Loureiro

A paixão pela arquitectura
Café com... José Carlos Loureiro, arquitecto

(JN 20090703 - MANUEL VITORINO)
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1290864
Meio século depois, o pavilhão Rosa Mota terá outras funções e o espaço envolvente recuperado. As árvores e o espírito do lugar serão mantidos. "Sou um amante das árvores", diz o projectista do Porto.

Fez parte de uma geração de projectistas cujo mestre e referência intelectual foi o urbanista e pedagogo Carlos Ramos, arquitecto do modernismo português, director da ESBAP - Escola Superior de Belas Artes do Porto. Aos 84 anos, José Carlos Loureiro, arquitecto com obra espalhada pela cidade e edifícios marcantes na paisagem urbana do país, aceitou, recentemente, requalificar o pavilhão Rosa Mota, projectado e construído há meio século no Porto, precisamente no lugar onde esteve o Palácio de Cristal, ainda hoje referência afectiva na memória dos portuenses. Pois bem: 50 anos depois, o arquitecto Carlos Loureiro irá renascer o edifício de betão e dar-lhe outras valências para realizações de provas desportivas, congressos, concertos, conferências. Como existe algum ruído provocado por pessoas a falar daquilo que não sabem, o arquitecto afastou suspeitas e avisou: "As árvores ficarão no seu lugar de sempre, a paisagem envolvente será respeitada e mantida".

Tem obras únicas na cidade, o Edifício Parnaso, o conjunto habitacional do antigo campo do Luso, o Hotel D. Henrique, a agência do BBI, no Infante. O que significa este regresso ao Rosa Mota?

Emoção, entusiasmo. Já não será o entusiasmo dos 26 ou 27 anos, mas será, seguramente, a mesma paixão pela arquitectura.

É também um desafio, um projecto complexo transformar radicalmen-te a função do edifício de abóboda gigante...

É verdade, mas será um desafio estimulante transformar o pavilhão actual num multiusos com grande flexibilidade de funções e valências. O renovado Rosa Mota terá capacidade para acolher 5700 pessoas e simultaneamente, decorrerem provas desportivas, concertos, festas, representações de teatro, um sem número de eventos. O Norte precisa de um grande centro de congressos.

O Rosa Mota está em vias de classificação como imóvel de interesse público pelo IPPAR e resistiu ao tempo. Com as tecnologias actuais o panorama da arquitectura não podia ser melhor?

Dentro das tecnologias disponíveis, penso que existem boas construções. Mas as tecnologias do passado foram extraordinárias e mais duráveis. Temos pontes romanas com mais de mil anos de história, enquanto as pontes de betão têm de ter reparações constantes e manutenção cuidada.

A sua proposta prevê o tratamento acústico e instalação de um sistema de obscurecimento no interior. E quanto aos jardins, o lago, as árvores?

Tudo será preservado. Quem conhece a obra realizada por mim sabe do grande respeito que tenho pelas árvores. Veja a urbanização do Lima 5, onde plantei as árvores actuais, o edifício Parnaso tem várias espécies, a minha casa de aldeia tem 150 árvores e em Vimioso 10 mil. Sou um amante das árvores. Não há lugar a receios.

Conheceu os mestres Viana de Lima e Fernando Távora. Que memórias guarda?

Viana de Lima foi o grande arquitecto e figura de referência na arquitectura e urbanismo. O Fernando Távora foi um grande amigo, fomos companheiros na antiga ESBAP.

E que lições preserva do professor Carlos Ramos?

Um homem de grande verticalidade e dedicado à sua escola de sempre, a ESBAP. Para lhe dar um pequeno exemplo da minha ligação ao mestre, bastará dizer que, durante sete anos, trabalhei gratuitamente por amor à arte e respeito pelo professor Carlos Ramos.
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Comentário:
Ainda hoje e cada vez mais - um grande exemplo.
Temos que respeitar e proveitar as árvores, e tudo o que elas têm para nos dar.
E agora... no TERREIRO DO PAÇO...
Nem os políticos, nem os autores lá querem árvores!
Porquê?
Porque querem lá publicidade, que vale "ouro"... vale muito mais que as árvores (para uns poucos)...
Para colocar árvores, não tem que se criar um jardim. Em caldeiras, mesmo com grelhas de protecção ao solo, elas CRIAM O ESPAÇO e dão alma à praça.

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