quarta-feira, 8 de julho de 2009

CIDADANIA LX: Manta de retalhos para a Praça do Comércio

CIDADANIA LX: Manta de retalhos para a Praça do Comércio
In Público (7/7/2009)- João Mascarenhas Mateus

Transcrição do final do post:
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"Lisboa arrisca a desmonumentalização da Praça do Comércio, utilizando-a como simples arranjo cenográfico ao serviço de uma lógica consumista de bares, esplanadas e asseptização de espaços onde muito da identidade de cidade está em risco de ser perdida. Da sua relação tradicional com o rio, com a terra, com os materiais da região, com a luz, com a sua história.
Desejava-se com a classificação de monumento nacional alargado à zona da Baixa Pombalina a candidatar a Património Mundial, conseguir garantir a aplicação integrada de uma metodologia história e crítica. Não se sonhava que sobre um monumento nacional a passividade da tutela fosse tão evidente na hora de a cobrir com uma manta e com retalhos vários de métodos e de conteúdos.
Coordenador técnico da candidatura da Baixa Pombalina a Património Mundial entre 2002 e 2006.»
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Comentário:
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Sem dúvida nenhuma, uma das exposições que melhor traduz o nível do atentado que está a ser consumado na Praça do Comércio.
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Os nossos políticos ainda não perceberam que, se querem fazer OBRA NOVA, sem quaisquer condicionalismos, o podem fazer legítimamente: - devem procurar locais onde não exista património. Se possível, locais ainda não edificados. Mas principalmente onde não exista uma cultura valiosa que nos tenha sido legada, em que, para além de sentirmos a obrigação de a estimar, sentimos também a honra de a valorizar.
E assim não denotavam tanto a sua falta de cultura, nem a incultura de um povo que admite estes actos.
Quando a obra é num monumento nacional, a responsabilidade é ainda muito maior. Assim como o respeito pela pré-existência.
E deviam ser deixadas de lado todas as arrogâncias e vontade de brilhar no novo, para deixar respirar o passado. Isto seria ter alguma cultura.
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Infelizmente não é o caso.
E parece que nem com uma "lambada" destas, se consegue chamar à razão quem de direito?
Louvo a atitude e o saber do autor, assim como não ter tido medo de se expôr.
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Embora tenha, em alguns pontos, um entendimento um pouco diferente.
Não me parece de forma nenhuma adequada a ideia de reviver o Terreiro.
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Aspecto fundamental desta nova praça, do pós terramoto: a sua finalidade - Praça do Comércio. Perfeitamente integrada na acção diária da vida da nova cidade.
Em meu entender é esta a alma que a praça merece e que lhe falta. Que falta à cidade e à capital. Uma praça, com a vida de praça principal.
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Não uma alameda, não um jardim, não um terreiro. E não um palco de vaidades para utilizações mercantis pontuais, à exploração mercantilista dos publicitários, camuflados de pomposo "Urbanismo Comercial".
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E com alguma actualidade: - ambientalista na composição, racionalista na expressão e no aproveitamento diário; dinâmica na funcionalidade - tinha que ter árvores, e cativar o estar.
Uma praça que fosse a expressão do cidadão que trabalha e é produtivo, numa sociedade organizada, com futuro, que aguenta novos terramotos.
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Esta ideia de ordem social subjacente ao plano da Baixa Pombalina, perde-se completamente no projecto de "obra nova" que está a ser implementado por António Costa, quando tinha a obrigação, a imposição, por ser monumento nacional, de ser respeitada.
Mas não, é o oposto de tudo o que devia ser.
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E nem o assumir, pelos autores e promotores, da "aridez" própria desta praça; de que não é para estar; de que é o urbanismo comercial que lhe vai dar vida... Nada disso lhes salva a desfeita que estão a fazer a todo um povo.
Não é obra de um país culto, nem de pessoas cultas.
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Isto é um atentado. É uma obra de vândalos.
É um crime de lesa património, cultural e monumental.
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Ferreira arq

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